sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

domingo, 25 de janeiro de 2009

“Dia Santo ou Feriado?”
Seminário do Dia do Senhor-IV


Dr. Samuele Bacchiocchi Professor Jubilado de História Eclesiástica e Teologia
Universidade Andrews, Berrien Springs, Mich., EUA


Introdução

[Dr. Carl Coffmann, Chefe do Depto. de Religião da Universidade Andrews]:

Damos-lhes as boas-vindas para a última seção deste Seminário do Dia do Senhor. É nossa oração que estes estudos tenham trazido real enriquecimento espiritual para as suas vidas.
O Dr. Bacchiocchi escolheu um intrigante título para a sua quarta apresentação, “Dia Santo ou Feriado?”
Nosso orador compartilhará alguns pontos de destaque em seus anos de pesquisa na Universidade do Vaticano e como a mudança ocorreu do sábado para o domingo no cristianismo primitivo, e como essa mudança afetou a qualidade do viver cristão de milhões de pessoas ao longo dos séculos.
Kerry McCombs cantará novamente, desta vez um dos favoritos da Igreja Cristã, “Manso e Suave Jesus está Chamando”, acompanhado pela esposa Tammy.
Unam-se comigo em oração pois tanto precisamos responder ao terno chamado de Nosso Salvador e ao virmos à parte em Seu santo dia para receber Sua bendita paz e descanso.
“Querido Pai, fizestes tanto por nós. Concedeste-nos um maravilhoso Salvador que deseja nos perdoar e restaurar à Sua semelhança. Deste-nos um maravilhoso dia de repouso, o sábado. Ajuda cada um de nós a encontrar em Jesus e no sábado a paz e descanso celestiais para nossa vida de que tanto carecemos hoje. Muito obrigado por nos ajudar, em nome de Jesus, amém.”

[Apresentação da música anunciada]

Muito obrigado Karry e Tammy por outra maravilhosa mensagem em cântico, um cântico que tão adequadamente nos recorda o dia santo de Deus, o dia quando o Salvador suave e ternamente nos convida a nos dispormos voluntariamente a Ele para experimentar mais livre e plenamente sua paz e descanso em nossa vida.
Bem-vindos, amigos, a esta última seção deste Seminário do Dia do Senhor. Para mim tem sido um real privilégio compartilhar com vocês alguns pensamentos de como podemos tornar a celebração do santo dia de Deus uma experiência de renovação pessoal, descanso e refrigério.
Nesta última apresentação gostaria de compartilhar com vocês alguns dos pontos altos da pesquisa que tive o privilégio de empreender na Universidade do Vaticano exatamente sobre esse intrigante tema de como ocorreu a mudança no dia do Senhor, do sábado para o domingo no cristianismo primitivo. Mas antes de iniciar minha apresentação formal hoje gostaria de tomar alguns momentos para mencionar esses pontos altos de minha experiência no Vaticano em benefício daqueles que não estiveram presente na primeira apresentação.
Talvez a melhor forma de sumariar minha experiência no Vaticano é por caracterizá-la como uma providência, por um lado e satisfação recompensadora, por outro.
Por exemplo, minha admissão na Pontifícia Universidade Gregoriana foi um problema real porque em nunca antes, em 431 anos de sua história, um não-católica havia sido ali admitido. Então, podem imaginar como levou muitos meses para que minha solicitação de matrícula fosse processada e, finalmente, me conceder dispensação especial, isenção especial para assinar a Profissão de Fé Católica e também de freqüentar seus exercícios religiosos. Alguns de vocês, estudantes, até podem achar que eu tive sorte de não ter que assistir às capelas no Vaticano, não é mesmo?
Não só minha admissão, mas também minha presença no Vaticano foi um problema. Por quê? Porque as autoridades da universidade temiam que eu fosse me valer das aulas e corredores para propagar minha fé, e assim, no dia em que me aceitaram, pediram-me para fazer um solene voto (eles não podiam fazer um voto monástico), prometer solenemente que não utilizaria suas instalações para propósitos de propaganda. E isso é o que eu prometi naquele dia. E fiz isso, mas sabem o que aconteceu? Eu lhes disse que só falaria se fosse interrogado, mas na verdade eles me interrogavam o tempo todo porque meus colegas de classe ficavam se indagando a que ordem religiosa eu pertenceria, uma vez que eu não trajava nenhuma veste monástica. Então me perguntavam o tempo todo, “a que ordem religiosa você pertence”? E quando eu lhes dizia que pertencia à ordem adventista eles queriam saber mais sobre essa ordem especial, porque imaginavam que se tratava de uma das muitas ordens católicas.
Bem, não só minha admissão e presença, mas também minha pesquisa no Vaticano foi um problema porque eu decidi investigar o próprio assunto tão controvertido da mudança do santo dia de Deus no cristianismo primitivo. Bem, ao enfrentar esse problema desafiador, pela graça de Deus, eu experimentei uma das maiores satisfação de minha vida.
Primeiramente, diria, a satisfação de conseguir novos lampejos, não só quanto a qual é o dia santo de Deus, mas também quanto ao que deve significar para a vida cristã hoje. Eu honestamente posso lhes dizer com franqueza que esses cinco anos que passei ali no Vaticano, trabalhando na biblioteca do Vaticano, examinando todos aqueles antigos documentos hebreus e cristãos, não só confirmaram minha convicção quanto à validade do princípio da observância do sábado no sétimo dia, mas me ajudaram a descobrir o valor e benefício e bênção da guarda do sábado. Eu posso verdadeiramente lhes dizer e confessar-lhes que como resultado dessa pesquisa vim a descobrir o sábado, não como um dia de frustração, mas um dia de celebração, não como um dia negativo, mas um dia de alegria, um dia para nos aproximarmos de Deus, dos semelhantes, um dia para experimentar renovação física, moral e espiritual em nossa vida pessoal.
Bem, também tive a satisfação de compartilhar minha fé ali no Vaticano com meus professores, meus colegas de classe. Eu lhes disse na primeira apresentação como pude convidar alguns de meus colegas sacerdotes e monges para assistirem a nossa igreja em Roma. De fato, pude convidar toda a classe de graduandos para nossa casa para uma festa de despedida. Eu lhes disse que não iríamos oferecer bebidas alcoólica. Mas disseram-me que isso não seria um problema, pois poderiam cuidar disso eles próprios!
Eles não estavam brincando. Quando chegaram aquela noite, estavam muito bem equipados. Tinham uma garrafa numa mão, outro trazia o acordeão, o bandolim para terem um bom tempo cantando e bebendo. E logo começaram a cantar alguns cânticos românticos italianos, e eu mal podia crer, porque monges e sacerdotes não têm namoradas, como sabem. Assim, eu tive que lhes perguntar: “Amigos, como podem cantar a respeito da amada quando não têm uma?” Um deles me respondeu que essa era a maneira como sublimavam o seu amor.
“Bem”, eu disse, “isso pode ser suficientemente bom para vocês, meus amigos, não para mim. . .” Mas isso me deu oportunidade, ao chegarmos ao fim da reunião, de dar a cada um deles uma cópia de cortesia de minha dissertação como uma última lembrança do abençoado tempo que tivemos juntos.
Sim, eu também tive a satisfação de ter dois livros publicados no Vaticano, primeiro, a minha dissertação doutoral, Do Sábado Para o Domingo, que conta a história da mudança do santo dia do Senhor no cristianismo primitivo. Devo mencionar que esse livro tem a distinção de ser a primeira obra jamais publicada pela gráfica do Vaticano escrito por um não-católico, contudo publicado com o Imprimatur, que é o endosso oficial, concedido por três diferentes autoridades católicas. Também tive a satisfação de ter um segundo livro publicado no Vaticano, Divine Rest for Human Restlesness [Descanso divino para a inquietude humana] que apresenta o valor e benefícios da observância do sábado para nossa vida hoje.
Talvez a maior satisfação foi ter o oportunidade de receber do Papa Paulo VI duas medalhas que trouxe novamente para que aqueles que não as viram na primeira apresentação possam vê-las hoje. Esta é a medalha de prata para a distinção magna cum laude em meu trabalho acadêmico, e esta é a medalha de ouro, pela distinção summa cum laude, em meu trabalho de pesquisa sobre esse princípio bíblico tão importante de observância do sábado que o mundo cristão tem em grande medida esquecido.
Se algum de vocês quiser examinar mais de perto essas peças de “santa prata” e “santo ouro” do “santo Pai” eu terei o prazer de lhes mostrar de bem perto.
Também tive a satisfação de receber um diploma muito incomum. Vou pedir a minha esposa para novamente a vir à frente e segurar o diploma por um instante enquanto eu conto rapidamente a história dele. Em certo modo eu gosto que minha esposa o segure porque creio que ela tem um legítimo direito a metade do diploma, sabem por quê? Não fosse por seu apoio moral e espiritual eu não o teria conseguido. Assim, creio que este diploma pertence a nós ambos.
Agora, o que há de especial a respeito deste diploma? Este é o segundo diploma que prepararam para mim porque eu recusei aceitar o primeiro, ou seja, o diploma padronizado da Universidade, sabem por quê? É que no primeiro diploma a declaração inicial dizia que eu havia assinado a profissão de fé católica, o que não era verdade. Assim eu lhes disse, “temo que não possa aceitar este diploma”, e o deão reconheceu a validade de minha objeção, assim deu ao calígrafo do Vaticano a ordem de preparar um belo diploma, escrito à mão, concedido por autoridade do Papa Paulo VI e assinado por um número de distinguidas autoridades católicas.
Quando eu fui receber o meu diploma eles me disseram: “Quero que saiba que este é o diploma mais bonito que o Vaticano já produziu”. Louvado seja Deus! Muito obrigado.
Também tive a satisfação, e já disse que foi a maior satisfação de todas, poder compartilhar a minha fé através da página impressa com líderes e eruditos cristãos de diferentes persuasões em muitas partes do mundo. Eu gostaria de ter tempo hoje para compartilhar com vocês as centenas, milhares de cartas que tenho empilhadas em meu escritório de eruditos de diferentes persuasões que leram esta publicação oportuna sobre o sábado e me escreveram para expressar sua preocupação e interesse por recuperar os valores e bênçãos da observância do dia de descanso para a vida pessoal.
Talvez eu poderia compartilhar uma carta com vocês que recebi do Dr. Don W. Wordlord, do Seminário Teológico McCormick (ele é professor de culto e pregação nessa instituição). Após ler o meu livro ele me enviou uma avaliação muito simpática, dizendo, por exemplo, “o seu livro quieta e vigorosamente nos desafia, como cristãos, que temos eliminado a observância do sábado, a reconsiderar de seu ponto de vista positivo a experiência redentora que nos é disponível, a nós crentes, cada semana, nessas 24 horas concedidas por Deus”.
E ele prossegue dizendo, “Nossas almas fragmentadas, penetradas, dissecadas por um cacófono de contracultura (ele sabe usar bem a língua inglesa, não é mesmo?) clama pelo alívio e realinhamento que nos aguarda no dia de sábado. Muito obrigado por nos ajudar a unir-nos a Adão nesse ritmo de renovação”.
Eu posso lhes assegurar que é muito gratificante receber endossos como este de eruditos que reconhecem que hoje precisamos da liberação, do realinhamento do dia do sábado em nosso mundo cheio de tensão e inquietude.
Eu tive a grande satisfação não só de receber centenas de cartas como estas, mas também de receber convites de organizações religiosas e acadêmicas para compartilhar com eles a mensagem do sábado para hoje. Talvez eu poderia compartilhar uma experiência em particular, qual seja, o convite que recebi da Aliança do Dia do Senhor dos Estados Unidos. Após ler o meu último livro Do Sábado Para o Domingo o Dr. Wesberry, diretor executivo da Aliança do Dia do Senhor dos Estados Unidos escreveu uma carta muito graciosa, primeiramente agradecendo pelo livro e então, no terceiro parágrafo, dizendo que “seria uma grande alegria reunir-me com o irmão se uma tal reunião pudesse ser arranjada. Tal conversação”, diz ele, “haverá de aumentar meus conhecimentos e dar-me idéias adicionais sobre como o Dia do Senhor devia ser observado”. Então, no último parágrafo ele diz: “Se puder propor o tempo e lugar para uma reunião entre nós ser-me-ia grande honra reunir-me e conversar com o senhor”.
Mamma mia! Quando recebi esta carta fiquei tão emocionado. . . De vez em quando eu me sinto muita emoção. Aqui estava o diretor-executivo da Aliança do Dia do Senhor dos Estados Unidos expressando o desejo de conversar comigo para aprender mais sobre como o Dia do Senhor poderia ser observado. Pudemos fazer arranjos com ele vir à Universidade Andrews e passou conosco uma celebração do sábado, participando de nossa Escola Sabatina. Ele foi nosso convidado de honra em casa. Vocês precisam vê-lo comendo nossa lasagna sabática, quase lambendo o prato. Ele perguntou o que a fazia tão gostosa, e eu lhe disse: “Dr. Wesberry, esse é o molho do sábado que o faz ter gosto tão bom”. E desde então ele me tem pedido a receita secreta do molho sabático. . .
À noite, quando minha esposa e eu o levamos ao aeroporto sabem o que ele nos disse? Declarou que aquele foi o mais deleitoso dia de repouso que já havia celebrado em sua vida. Então ele me fez uma pergunta. Sabem o que ele me perguntou? “Estaria o irmão disposto a vir no próximo dia 14 de fevereiro até Atlanta, Ga., e falar durante reunião da nossa junta que terá a assistência de 150 membros da junta, líderes religiosos representando 21 denominações, estaria o irmão disposto a fazer isso?”
Eu disse, “Dr. Wesberry não repita isto. Uma vez é suficiente. Eu teria a maior emoção de ir por minha própria conta”!
Eu gostaria que estivessem ali naquela noite. Tive 70 minutos para compartilhar não só os pontos altos de minha pesquisa sobre a mudança do Dia do Senhor, mas também esbocei sugestões sobre como hoje podemos revitalizar a observância do dia santo de Deus. Oh, a reação foi magnífica. Todos eles, com exceção de quatro ou cinco pessoas, levantaram-se e me deram uma ovação estupenda e 36 deles, inclusive Normal Vincent Peale, escreveram-me depois solicitando literatura para aprofundarem o seu entendimento do sábado para hoje.
Creio que este interesse da parte de tantos líderes religiosos hoje por um reexame da história, teologia e relevância prática do sábado é indicativo da prevalecente preocupação entre líderes religiosos quanto à crise do dia do Senhor. Estou certo de que estão cientes do fato de que a crise do Dia do Senhor é uma das crises mais cruciais a afetar o cristianismo hoje. Para muitos cristãos o Dia do Senhor na verdade se tornou um feriado [N.T.: em inglês, o contraste entre “holy day” (dia santo) e “holiday” (feriado)], como o título da nossa apresentação sugere. Um dia para buscar prazer e ganho pessoal, em vez de buscar a presença e paz de Deus.
Estou certo de que estão cientes de que na Europa Ocidental, por exemplo, mais de 90% dos cristãos não se preocupam de ir a uma igreja, muito menos consagrar um tempo para o Senhor. Logicamente essa tendência é de grande preocupação para os dirigentes religiosos, por quê? Porque eles reconhecem que a observância do dia santo desempenha um papel vital no crescimento e sobrevivência cristãos. Este fato foi reconhecido há muito tempo pelo grande presidente americano Abraão Lincoln. Num discurso que Lincoln apresentou em 13 de novembro de 1862 ele declarou: “Ao mantermos essa interrupção do dia de repouso nós nobremente salvamos ou perdemos lamentavelmente, as regras, a última e melhor esperança pela qual o homem se eleva”.
Não é maravilhoso que um de seus maiores presidentes, Abraão Lincoln, reconhecesse que o princípio de observância do santo dia de Deus é a última e melhor esperança que pode elevar e enobrecer a humanidade? A indagação que surge é—por que Lincoln, por que os líderes religiosos reconhecem hoje que este princípio de observância do santo dia de Deus é tão vital? Por que é tão vital? Simplesmente porque o cristianismo em essência é um relacionamento com Deus, e se esse relacionamento deve sobreviver, seja a nível humano ou humano-divino, tem que ser cultivado, não é verdade? Nenhum relacionamento sobreviverá sem que tempo seja dedicado a estar juntos, e o santo dia de Deus, o dia de sábado, propicia-nos o tempo e a oportunidade para cultivar, para aprofundar nosso relacionamento de uns com os outros. E isso significa que a apropriada observância do santo dia de Deus resulta em crescimento espiritual, bem-estar espiritual. A negligência, indiferença e profanação do santo dia de Deus resulta em declínio espiritual, morte espiritual. E se isso é verdade, então a atual tendência, a atual profanação do Dia do Senhor é indicativo da ameaça que o cristianismo defronta, não só a ameaça da extinção do santo dia de Deus, mas a ameaça do fim do próprio cristianismo.
De fato, alguns teólogos e eruditos falam que a Europa está numa era “pós-cristã”, como se o cristianismo ali já tivesse morrido. E esses líderes cristãos preocupados que pensam e se preocupam com tal problema estão propondo soluções. Eu poderia ler centenas de artigos e dissertações, como exemplo, da revista Sunday, publicada regularmente para tratar exatamente desse problema, e noto que há várias propostas freqüentemente feitas. Três delas se destacaram em minha mente. Uma é a proposta legislativa. A segundo pode ser chamada, a proposta educacional, a terceira pode se chamar, a proposta teológica para ajudar a resolver o problema da profanação do Dia do Senhor.
Legislativa: Muitos hoje crêem que o de que precisamos é uma legislação nacional que poria fora da lei todas as atividades que não sejam compatíveis com o espírito do domingo. É argumentado que essa legislação nacional poderia alcançar dois objetivos principais: 1) Preservaria o equilíbrio ecológico de nosso meio-ambiente; 2) Incentivaria ou promoveria a freqüência à igreja aos domingos. Permitam-me perguntar-lhes: o que pensam a respeito disso? Pensam realmente que uma legislação nacional seria a melhor solução para a prevalecente não-observância, indiferença e negligência do dia do Senhor? O que acham disso?
Eu pessoalmente não creio que em nossa sociedade materialista e pluralista possamos tornar as pessoas religiosas por meio de legislação coerciva. Isso se comprova na Europa, na Itália, Inglaterra, Alemanha onde há leis dominicais que proíbem todo tipo de atividade comercial e industrial. Na Itália, por exemplo, você não pode comprar gasolina aos domingos. Pode haver um posto de gasolina aberto para cada 10.
Assim, tem-se que encher o tanque no sábado se estiver viajando por lá, doutro modo estará sem combustível no domingo. Significa isso que as pessoas são mais religiosas? Não! Só 3 por cento das pessoas vão à igreja aos domingos; 97% vão à igreja só três vezes na vida: quando são batizadas, quando se casam e quando são sepultadas, e neste último caso nem vão por si—são carregadas! . . . Assim, isso mostra que a legislação não é a solução para a prevalecente profanação do Dia do Senhor.
E muitos líderes religiosos reconhecem isso, assim estão propondo um programa para educar, iluminar nossa comunidade quanto aos vários benefícios sociais, econômicos, ecológicos, fisiológicos que podem derivar de quando pessoas e máquinas param por um dia no domingo. De fato, um recente artigo da revista Sunday diz que se todas as lojas fechassem aos domingos isso se traduziria em economia: economia em mão de obra, economia em energia, economia que poderia ser transferida para o consumidor em termos de 15% de redução na caixa registradora.
Isso parece bastante atraente, não é mesmo? Outra vez, porém, um programa educacional como esse poderia ter sucesso? Bem, eles estão tratando duro disso. Há pouco recebi, por exemplo, alguns posters que têm sido colocados em algumas partes do país, como este que foi colocado em importantes lojas e que diz: “A abertura aos domingos vai custar-lhe todo dinheiro extra no preço final de suas compras”. Eis aqui outro que diz: “Não se engane. Se esta loja está aberta aos domingos você vai pagar maiores preços sete dias por semana”.
Uma vez, permitam-me perguntar: pode uma campanha educacional como essa realmente ter êxito em educar e convencer as pessoas a se tornarem religiosas no domingo, a assistirem a igreja de sua escolha? O que pensam?
Temo que educação uma vez mais não seja a solução porque a experiência nos ensina que as pessoas não mudam o seu estilo de vida só por causa de uma peça de bom conselho que lhes é dada, não é verdade? Em todo maço de cigarro nos EUA está claramente escrito, em preto e branco, que o Cirurgião Geral (N.T.: equivalente a Ministro da Saúde) determinou que o fumar é prejudicial para a saúde. Esta é uma boa peça de conselho dada por uma autoridade altamente respeitada no país. Contudo, o que vemos? Há mais de 37 milhões de pessoas neste país somente, que preferem consumir sua saúde em fumaça a interromper o hábito de fumar! O que isso demonstra? O que prova? Simplesmente prova que bom conselho, educação por si mesmo não é suficiente.
Creio que o que é necessário, o de que se precisa é uma profunda convicção teológica. Somente quando uma pessoa descobre que certos princípios, como o princípio da observância do sétimo dia, não é apenas um conselho humano, não é um programa educacional, mas um princípio divinamente estabelecido para assegurar nosso bem-estar físico, moral e espiritual, somente quando essa convicção se torna dominante a pessoa se sentirá compelida a agir segundo tal convicção. Muitos líderes religiosos e eruditos reconhecem a importância dessa visão teológica e, conseqüentemente, pesquisas recentes e manuais adotaram essa metodologia teológica, que é dar uma base bíblica para a observância do domingo.
De fato, a explicação prevalecente hoje, e mais de vinte dissertações foram produzidas e centenares de artigos foram escritos apresentando a explicação de que a mudança histórica do sábado para o domingo ocorreu pela autoridade de Cristo, pela autoridade dos apóstolos os quais, alegam, escolheu o primeiro dia da semana a fim de honrar a Ressurreição de Jesus Cristo por meio da celebração da Ceia do Senhor.
Caros amigos e irmãos eu passei muitos anos de minha vida buscando testar a validade dessa alegação e desejo compartilhar com vocês, no tempo muito limitado, infelizmente bastante limitado que temos, o que levou muitos anos para eu descobrir. Gostaria de pelo menos apresentar alguns dos pontos altos das conclusões de minha pesquisa.
Comecemos por examinar essa alegação da Ressurreição de Jesus. Façamos a pergunta: é verdade que a Ressurreição de Cristo, que teve lugar no primeiro dia da semana, foi o fator motivador para causar o abandono do sábado e adoção da observância dominical? Em minha pesquisa do material bíblico e patrístico descobri que essa alegação baseia-se em fantasia e não em fatos. Permitam-me apresentar pelo menos 6 razões:

1) No Novo Testamento não existe nenhuma ordem de Cristo ou dos apóstolos com respeito a uma celebração semanal ou anual da Ressurreição de Cristo. Temos várias ordens diferentes para batismo (“ide por todo o mundo e batizai”), para santa ceia (“fazei isso em memória de Mim”), para o lavapés (“eu vos dei o exemplo para que façais como eu vos fiz”), mas podem percorrer todas as páginas do Novo Testamento e não encontrará o menor indício ou sugestão de que a Ressurreição de Jesus Cristo devesse ser celebrada num domingo semanal ou num domingo de Páscoa anual.

2) Gostaria que notassem que o Novo Testamento não há qualquer designação do dia da Ressurreição. Em outras palavras, o domingo nunca é chamada de Dia da Ressurreição no Novo Testamento, mas é simplesmente chamado “primeiro dia da semana”. Sabem o que eu descobri em minha pesquisa? Tivemos que esperar até o 4o. século (321 DC) com os escritos de Eusébio para encontrar o primeiro uso da frase “dia da Ressurreição”. Por quê? Porque antes desse tempo o domingo não tinha sido associado com a celebração ou memorial da Ressureição, assim tal frase não existia.

3) Gostaria que notassem que a Ressureição de Jesus Cristo no domingo não assinala o encerramento do ministério terrestre de Cristo, mas a inauguração do novo ministério de Cristo. Lembram-se como o Salvador naquela sexta-feira à tarde declarou, em João 19:30: “Está consumado”? E ao ter declarado isso, Ele descansou na tumba, segundo o mandamento.
Sim, a Criação havia sido completada com o divino descanso, e a redenção foi completada com o descanso do Salvador na tumba.
Mas a Ressureição não assinala a complementação, mas sim o início, a inauguração do novo ministério de Cristo, que, como a inauguração da Criação, pressupõe trabalho, antes que descanso.

4) As próprias palavras que foram proferidas pelo Cristo ressurreto no dia de Sua Ressurreição contêm um convite para o trabalho, antes que ao descanso. Lembram-se como o Salvador declarou às mulheres: “Vão e digam aos discípulos para irem para a Galiléia”? Ele mandou os discípulos irem ensinar todas as declarações do Salvador ressurreto no dia da Ressurreição, o que pressupõe trabalho, não descanso.

5) Sobre a Ceia do Senhor, que muitos cristãos consideram como o centro do culto dominical em honra do Salvador ressurreto, sabem o que eu descobri estudando todos aqueles documentos dos cristãos primitivos na biblioteca do Vaticano? Descobri que a Ceia do Senhor não era celebrada exclusivamente no domingo. De fato era celebrada nas noites de diferentes dias da semana porque a lei romana proibia essas reuniões da Ceia e os cristãos precisaram mudar as datas e lugares de semana a semana, e descobri que o significado da Ceia do Senhor—qual é o significado da Ceia do Senhor? Leiamos na Bíblia. 1 Coríntios 11, vs. 26 onde Paulo discute o sentido da Ceia do Senhor, e ele diz: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a RESSURREIÇÃO do Senhor, até que Ele venha. . .” É isso que ele diz? Não! O que ele disse? Anunciava, o quê? “Anunciais a MORTE do Senhor, até que Ele venha”.
Assim, podem ver que no Novo Testamento a Ceia do Senhor era vista como memorial, do quê? Da morte, a paixão de Jesus e também a Sua vinda, a parousia. O motivo da Ressurreição não está aí.

6) A Páscoa que os cristãos hoje celebram no Domingo de Páscoa em honra da Ressurreição de Cristo, eu descobri que entre os cristãos primitivos pelo menos por quatro séculos após a morte de Cristo era celebrada, não regularmente num domingo anual, mas pelo dia judaico fixo da Páscoa, em 14 de Nisã, o que significa que cairia em diferentes dias cada semana, e o significado da Páscoa não era a Ressurreição, mas a celebração da Paixão, a expiação, os sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo. Agora, eu poderia lhes dar muitas outras indicações. De fato, eu os instaria a lerem o capítulo 3 de minha dissertação onde toda essa questão da Ressurreição é examinada em muito maior extensão. Mas creio que indicações como essas são suficientes para mostrar que a alegação de que a Ressurreição de Jesus Cristo no primeiro dia da semana foi o fator motivador para o abandono do sábado e adoção do domingo é uma alegação totalmente infundada. É verdadeira e plenamente desacreditada tanto pela evidência bíblica quanto histórica.
Neste ponto uma pergunta surge: como se originou o domingo? Foi talvez pela autoridade da igreja de Jerusalém? De fato, este é o ponto de vista prevalecente. Muita gente diz, “Quem poderia mudar o dia de adoração, quem poderia alterar o calendário cristão? Não uma pequena e insignificante igreja, mas somente a sede, a igreja-mãe do cristianismo, a igreja de Jerusalém, seria a única que teria a autoridade máxima para realizar a mudança e impô-la sobre a cristandade.
Seria isto verdade, eu me pergunto? Parece muito racional, mas uma vez eu comecei a testar a validade dessa alegação, realizando uma exaustiva estudo em profundidade da história da Igreja de Jerusalém descobri que essa alegação é inteiramente sem fundamento. O que descobri na biblioteca do Vaticano? Basicamente descobri é que a igreja em Jerusalém por pelo menos um século completo após a morte de Jesus foi composta e administrada por conversos cristãos que eram muito fiéis e comprometidos com a herança religiosa, como a observância do sábado. E permitam-me dizer, amigos, a estas alturas, que por muito tempo tem havido uma prevalecente concepção falsa de que a cruz representa uma demarcação radical, uma descontinuidade entre o judaísmo, lei, observância do sábado—cristianismo, graça e observância do domingo. Esse tem sido o entendimento tradicional.
Sinto-me feliz em lhes relatar que nesta recente pesquisa tem sido demonstrado que essa descontinuidade não se fazia presente no cristianismo primitivo e que os cristãos primitivos e muitos milhares creram, cinco mil, quatro mil, três mil, milhares e milhares mencionados no livro de Atos, não eram pessoas que relegaram, abandonaram o judaísmo e sua herança religiosa para se unirem a outra igreja, outra denominação, como pensamos em nossos dias.
Eles se tornaram simplesmente judeus crentes. Ao aceitarem a Jesus de Nazaré como o seu Messias tornaram-se judeus crentes e a tensão nos Atos dos Apóstolos é entre judeus crentes e não-crentes. Vejamos um exemplo do Novo Testamento e depois veremos um exemplo de fonte pós-bíblica. Lembrem-se que em Atos dos Apóstolos, por exemplo, quando o líder da igreja em Jerusalém deu um relatório a Paulo, registrado em Atos 21:20: “Bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares entre os judeus que creram, e todos são zelosos da lei”. Então, como esses judeus crentes são caracterizados? “E todos são zelosos pela lei”.
Percebem este ponto? Eles eram zelosos na observância da lei, os cristãos de Jerusalém. Então eles dificilmente poderiam ter sido os pioneiros e promotores do abandono de um dos principais preceitos da lei, qual seja, o 4o. mandamento. Percebem isso?
Mais tarde, documentação histórica corrobora e substancia esta conclusão. Gostaria que pudéssemos ter tempo para estudar isto em profundidade, mas o tempo é tão limitado que eu posso somente exibir brevemente um documento em particular que descobri, e que é muito iluminador. . . Mamma mia, quando descobri este documento eu fiquei tão emocionado! De vez em quando eu me emociono. Sabem, quando você se dedica à pesquisa, lê, lê e lê, e às vezes o que você lê não lança nenhuma luz, assim se torna algo aborrecido, mas quando chega um tempo em que você localiza algo que realmente lança luz, isso realmente compensa tudo o que você enfrentou antes. Permitam-me falar sobre este documento do historiador palestino chamado Epifânio. Ele viveu ao redor de 350 AD e narra toda a história da igreja de Jerusalém e fala desses cristãos de Jerusalém que deixaram a cidade antes da destruição do ano 70 AD segundo a admoestação e instrução de Cristo.
Lembram-se de como em Mat. 24:20 Jesus disse aos cristãos, que quando vissem os exércitos cercando a cidade não deviam demorar-se, mas fugir? E isso eles fizeram, e para onde foram? Para o norte, a um lugar chamado Pela, e sabem o que ocorreu? Eles estabeleceram-se ali, colonizaram o lugar e passaram a ser conhecidos como os nazarenos.
E sabem o que este Epifânio diz? Ele declara que esses nazarenos, ou seja, os diretos descendentes da igreja de Jerusalém, viveram ali no seu próprio tempo e, diz ele, que os nazarenos diferiam do resto dos cristãos por insistirem até aquele tempo na observância do sábado do sétimo dia. O documento inteiro está traduzido na pág. 157 de minha dissertação, assim poderão lê-lo por si próprios.
Quando eu descobri este documento, sabem o que eu fiz? Eu providenciei uma cópia e fui até o escritório de meu professor. Ele leu na coluna em grego e na coluna em latim e então me perguntou: “Onde encontrou isto?” Eu disse: “Estava no andar de baixo em sua biblioteca”. Eu não havia providenciado uma cópia para mim, e ele leu novamente e sabem o que ele disse? Ele declarou: “Este é o atestado de morte—em italiano ele disse il certificato di morte—da teoria que faz de Jerusalém o lugar de nascimento da guarda do domingo.
Agora, por que ele disse isso? Porque ele era um homem muito inteligente. Ele reconheceu que se esses descendentes da igreja de Jerusalém preservaram a observância da guarda do sábado do sétimo dia até o 4o. século então dificilmente poderiam ser responsáveis pela mudança do sábado para o domingo no 1o. século, compreendem?
Tendo sido possível de provar para a satisfação de meu professor que Jerusalém necessitava ser excluída como o local de nascimento da observância do domingo a pergunta que permanecia em suspenso era—onde, quando, por que essa mudança teve lugar?
Ao continuar em minha investigação descobri evidência esmagadora indicando que essa mudança histórica começou aproximadamente um século após a morte de Jesus, não em Jerusalém, mas duas mil milhas de distância na igreja em Roma durante o reinado do famoso Imperador Adriano cuja foto aparece aqui na capa da Biblical Archaeology Review de um tempo atrás, que publicou o meu artigo, “Como Ocorreu A Mudança do Sábado Para o Domingo”. Eu descobri que foi nessa ocasião, durante o tempo do Imperador Adriano, de 117 a 135, que a igreja em Roma tomou medidas para mudar o sábado para o domingo e a Páscoa de 14 de Nisã para o domingo de Páscoa.
Por que essa mudança ocorreu nessa ocasião? Basicamente porque esse foi o tempo em que o governo romano adotou medidas bastante repressivas contra os judeus, proibindo categoricamente a observância do judaísmo em geral e da observância do sábado, em particular. Por quê? Porque os judeus tinham um espírito de rebelião por toda parte. Eles estavam experimentando um reavivamento do nacionalismo. A rebelião mais popular da época foi a rebelião de Barcocheba, e quando finalmente o imperador teve êxito em reprimir essa repressão, sofrendo pesadas perdas, não só expulsou os judeus de Jerusalém, mas proibiu categoricamente, sob ameaça de morte, a observância do sábado do sétimo dia. E eu descobri que foi nesse momento histórico crucial, quando era impopular e arriscado observar o sábado, a igreja em Roma, formada de cristãos gentios, a igreja vivendo sob o nariz, sob a atenção imediata do Imperador, decidiu que a melhor medida a adotar era mudar o sábado para o domingo, e a Páscoa de 14 de Nisã para o domingo anual, para mostrar separação, diferenciação dos judeus e de sua religião.
Como a igreja em Roma conseguiu fazer isso? Oh, como eu gostaria que estudássemos isto juntos. É muito interessante estudar a respeito de todas as medidas teológicas, litúrgicas e sociais que foram tomadas a fim de desencorajar a observância do sábado e incentivar, em seu lugar, a guarda do domingo. Uma das medidas que se destaca foi a mudança do sábado de um dia de festa para um dia de jejum para os judeus e para os cristãos.
Então, em vez de ser um dia de alegria e celebração, tornou-se um dia de jejum e tristeza para matar o clima festivo do sábado. Eu descobri que a igreja em Roma promulgou muitos decretos determinando que o sábado devia ser um dia de jejum, quando as pessoas não deviam comer nada, por quê? Por duas razões: 1) Como disse o Papa Silvestre—a fim de demonstrar exacratione judeorum—desprezo e ódio para com os judeus. 2) A fim de aguardar ansiosamente pela vinda do domingo.
Permitam-me perguntar-lhes, amigos, é o ódio aos judeus um motivo legítimo para alterar um preceito divino? Acaso Jesus jamais declarou que se se tornar impopular observar um de Meus mandamentos, tomem a liberdade de altera-lo? Já leram isso nos evangelhos? Não, jamais encontraremos nos evangelhos tal tipo de conselho. Contudo, isso foi exatamente o que ocorreu. Foi por mera conveniência, o desejo de livrar a pele, como se diz, e aqueles que desejavam expressar separação e desprezo pelos judeus e seu sábado é o que levou ao abandono do sábado.
Mas permanece a pergunta, por que o domingo foi escolhido? Vejam, os cristãos poderiam escolher um dia diferente, como a sexta-feira, para celebrar e memorializar a Paixão e Morte de Cristo. Por que eles escolheram o domingo, o primeiro dia da semana? Um fato muito importante que influenciou a adoção específica do domingo foi, como descobri, o prevalecente culto ao sol com seu domingo relacionado. De fato, sabem o que eu descobri em minha pesquisa? Descobri que o culto ao sol, o sol invencível, o culto do solis invictus, havia se tornado muito popular, de fato chegou a ser o culto predominante de Roma antiga pelo meio do segundo século, e descobri que quando o deus-sol se tornou o deus mais importante, isso afetou o ciclo da semana romana.
Permitam-me ilustrar isto mostrando-lhes alguns calendários arqueológicos. Estou segurando aqui um calendário datado de 78 AD onde, como notarão, Saturnus é indicado como o primeiro dia da semana e Solis é tido por segundo dia. Isso significa que o sábado é o dia no. 1 e o domingo é o dia no. 2. Permitam-me mostrar-lhes outro calendário onde a mesma coisa aparece. Eis outro em que os dias da semana são mostrados segundo a figura dos deuses planetários. O primeiro dia é mostrado com a figura de Saturno, o segundo dia é mostrado com a figura do sol, e seus raios, etc. talvez eu lhes possa mostrar outro calendário de Pompéia. Eu imagino que ouviram falar de Pompéia, que foi destruída em 79 AD. Neste grafite de uma parede de Pompéia, “dies” significa dia da semana, “Sat”, é indicado como o 1o. dia, e o Sol. recebe o lugar do 2o. dia. Qual é o ponto que estou tentando apresentar?
A questão é que no 1o. século, pelo tempo em que Pompéia foi destruída, o sábado era o 1o. dia da semana. Mas sabem o que aconteceu? Isso foi algo novo para mim. Eu desconhecia tal fato. Ao tornar-se o deus-sol o mais importante do panteão romano, até mesmo o dia que se associava com o deus-sol se tornou importante. Como? Sendo promovido da posição de dia no. 2 para o dia no. 1, como podem ver neste calendário, dia mais importante da semana.
Oh, quando descobri esse avanço do dia do sol, de dia no. 1 para dia no. 2, eu me fiz a pergunta: “É possível que quando esse avanço teve lugar no mundo pagão, os cristãos também, que vieram de um mundo pagão, que tinham conhecido e praticado a observância do sol, nesse momento crucial, quando a necessidade foi sentida para separar-se, diferenciar-se dos judeus, teria sido possível que nessa ocasião eles chegaram a escolher o chamado “dia do sol” para expressar sua fé em Cristo? E eu testei meu trabalho e descobri que, positivamente, foi isto exatamente o que aconteceu!
Gostaria de poder discutir com vocês todas as evidências indiretas da influência do culto ao sol e todas as evidências diretas. Indiretamente encontramos que o culto ao sol influenciou os cristãos a escolher a orientação do nascer do sol e por escolherem 25 de dezembro, que era o dia de nascimento do deus-sol, como nova celebração do natal cristão, ou escolher a própria imagem do deus-sol.
Eu fui até Roma para tirar esta foto. Este é o mais antigo mosaico de Cristo que veio até nós da antigüidade cristã mais remota e que foi escavada recentemente sob o confessionário de São Pedro, em que Cristo é retratado como o deus-sol com sete raios de luz sobre a cabeça, montado na carruagem da quadriga, e isso é datado de cerca de 200 AD. De fato, o primeiro retrato de Cristo tem a Sua imagem como o deus-sol porque de fato essa era uma imagem muito significativa às pessoas daquele tempo. Mais diretamente o que eu descobri foi que a adoração do sol influenciou a própria justificativa teológica da observância do domingo.
Sabem de uma coisa? A razão predominante dada nos mais antigos documentos cristãos para a observância do domingo, dos primeiros cinco séculos, é este, como Jerônimo declara: “Observamos o dia do sol porque a luz foi criada no primeiro dia da Criação”. Podem ver a conexão entre o sol, gerador da vida, e a criação da luz no primeiro dia da semana? Assim podem ver como os cristãos adotaram o dia do sol como novo dia de culto. Eles estavam coçando a cabeça para buscar algum tipo de razão bíblica, e assim, encontraram este motivo na história da Criação, que no primeiro dia a luz foi criada, e essa seria uma boa razão para explicar por que observamos o domingo. Agora, obviamente essa razão foi abandonada há muito tempo.
Para sumariar tudo, caros amigos cristãos, permitam-me lhes dizer que a conclusão que emergiu de anos de dedicada pesquisa, lá na excelente biblioteca da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, é esta: que esta mudança histórica de sábado para o domingo não ocorreu por autoridade de Cristo, nem pela autoridade dos apóstolos, nem por causa do desejo de honrar a Ressurreição de Jesus Cristo no primeiro dia da semana, mas o processo todo começou aproximadamente um século após a morte de Jesus. Como lhes disse um momento atrás, foi durante o reinado desse Imperador Adriano, aproximadamente em 135 AD, e surgiu como resultado de uma interação de fatores sociais, políticos, religiosos e pagãos, fatores que também deram origem à comemoração do Natal em 25 de dezembro.
A conclusão que emergiu dessa pesquisa toda é que quando essa mudança teve lugar, não se tratou de uma mera mudança de nomes, de sábado para domingo, não somente uma mudança de números, de sétimo para o primeiro dia, mas uma mudança de significado, uma mudança de autoridade e uma mudança de experiência.
Sim, foi a mudança de um dia de 24 horas que Deus nos concedeu para expressar comprometimento com Ele, preocupação para com os semelhantes, num dia que foi escolhido para demonstrar desprezo pelos judeus, não compromisso para com Deus. Sim, de fato, foi uma mudança de um dia que Deus nos concedeu para nos ajudar a experimentar a consciência de Sua presença e Sua paz em nossa vida, num dia que se tornou ocasião para muitas pessoas buscarem o prazer e o ganho.
Para resumir tudo, foi uma mudança de um dia santo para um feriado. E essa mudança tem afetado grandemente a qualidade do viver cristão de milhões de pessoas ao longo dos séculos, gente que têm sido privada da renovação física, moral e espiritual que o sábado tem o objetivo de proclamar.
Queridos amigos e irmãos, essa experiência de pesquisar me convenceu plenamente que se já houve um tempo em que precisamos da renovação, do alívio e realinhamento do sábado, este tempo é hoje! Vivemos numa época em que as pessoas estão sofrendo todos os tipos de crise—crise marital, crise de identidade, crise racial, crise gerada pela tensão, pela inquietude, pela competição. Nesse Seminário do Dia do Senhor consideramos juntos como o sábado nos ajuda, mediante o Salvador, a encontrar um remédio divino a algumas dessas crises.
Eu desejo orar por cada um, especialmente por aqueles que pela primeira vez vieram para entender a validade da observância do sábado para a sua vida pessoal. Quero orar para que o sábado se torne verdadeiramente para nós todos o dia em que permitimos ao Salvador trazer descanso, paz e renovação às vidas de todos aqui.
Oremos: Agradecemos-Te, ó Deus, pela graciosa dádiva do dia de sábado, o dia em que nos convida toda semana a virmos à parte de nossos cuidados para nos colocarmos livres e disponíveis a Ti. Ensina-nos, oramos, a como fazer a celebração do dia de sábado realmente uma celebração alegre na qual experimentamos a consciência de Tua paz e descanso em nossa vida, e que essa paz e descanso do sábado ajudem a cada um de nós a experimentar paz e descanso todos os dias de nossa vida, esta é a nossa oração em nome de Jesus, amém.
Diálogo de Um Adventista Com Membros de Outra Igreja Evangélica--A Nossa Versão-I

O jovem e dedicado membro leigo adventista, a quem chamaremos Beto, estava a visitar residências oferecendo o curso bíblico grátis do programa radiofônico "A Voz da Profecia" e bateu à porta de um amistoso cavalheiro evangélico. Após fazer suas apresentação e oferta, o cavalheiro, a quem chamaremos Sr. Oliveira, comentou:

Sr. Oliveira: Oh, sim, eu às vezes ouço o programa pelo rádio. O quarteto e os solistas são ótimos e o orador também apresenta boas mensagens. Eu admiro os adventistas em muitos aspectos, sua obra educacional, sua preocupação com saúde e seu zelo pelo trabalho missionário, porém não concordo com tudo quanto ensinam. Mas gostaria de fazer-lhe uma pergunta bem objetiva e direta, pode ser?

Beto: Pois não.

Sr. Oliveira: Você já aceitou a Jesus como Salvador?

Beto: Sim, graças a Deus, amigo, mas há algo mais a fazer, como deve saber. . .

Sr. Oliveira: Está vendo só?! É nisso que discordo dos adventistas. Dizer que há algo mais a fazer. . . Deve estar se referindo à prática da lei e, especialmente, à guarda do sábado, não é mesmo?

Beto: Não exatamente. O que quero dizer é que devemos aceitar Jesus como Salvador, e Senhor de nossa vida, não concorda?

Sr. Oliveira: Sim, claro. Ele deve ter total senhorio de nossa vida.

Beto: Pois bem, e Ele disse àqueles que O aceitam como Salvador e O desejam seguir: "Se Me amais, guardareis os Meus mandamentos" (João 14:15). Agora, permita-me também perguntar-lhe: o amigo ama a Jesus?

Sr. Oliveira: Sim, mas veja o que Ele também explica em João 13:34: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros". É só isso que de nós é requerido agora na dispensação da graça, não mais a prática da lei, do Velho Testamento. Ele disse que agora havia esse novo mandamento. . .

Beto: Mas esta passagem que citou está no singular, reparou? E Ele disse, no plural, "os Meus mandamentos". Para ser plural deve haver pelo menos dois. Agora, vejamos dois mandamentos indicados por Cristo que devem ser seguidos por Seus seguidores.

Quando debatiam com Cristo, certa vez, os fariseus ficaram sem argumentos contra Ele, e um intérprete da lei, "experimentando-O, lhe perguntou: Mestre, qual é o grande mandamento na lei?" (Mat. 22:34-36). A resposta de Cristo foi repetir os princípios de "amar a Deus sobre todas as coisas" e "amar ao próximo como a nós mesmos". Isso causou uma reação interessante daquele líder religioso dos judeus, como lemos em Marco 10:32, 33: "Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele [Deus] é o único, e não há outro senão Ele; e que amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento . . . e amar ao próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios". E a reação de Jesus foi: "Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do Reino de Deus".

Se a resposta de Jesus tivesse indicado uma revolução na legislação divina para Seus seguidores, com ordenanças inteiramente novas, a reação do líder judaico seria bem outra, não acha? Ele sairia é dizendo que Jesus contradizia os ensinos de Moisés, anulando a lei dada por Deus para impor novos mandamentos. Afinal, sua intenção era exatamente pegar Jesus numa contradição!

Sr. Oliveira: É certo, são realmente dois os novos mandamentos de Cristo, "amar a Deus" e "amar ao próximo". . .

Beto: Mas veja como esses "novos mandamentos" na verdade são bem antigos.

Sr. Oliveira: Como assim? Creio que se a Bíblia diz que são novos, então temos que aceitar isso.

Beto: Veja como aquele jurista judaico só poderia mesmo ter tido uma reação de aprovação a Cristo, pois Jesus nada mais fez do que citar-lhe as passagens de Deuteronômio 6:5 e Levítico 19:18, que ele bem conhecia. Ou seja, os "novos" mandamentos de amor a Deus e ao próximo na verdade eram de fato bem antigos! Eram novos, não em termos de tempo, e sim de renovado significado, perdido de vista pela liderança judaica. Cristo os apresentou tal como Moisés fizera antes--como uma síntese ou os princípios fundamentais da lei divina.

A palavra grega utilizada para "novo" neste caso significa ‘algo novo em qualidade’ e é a mesma palavra empregada para "nova criatura" em 2 Coríntios 5:17 e "novos céus e nova terra", em Apocalipse 21:1. Não se trata de novo em substância mas algo que já existia e que passa por uma renovação.

A lei de Cristo e a lei de Deus são uma só e a mesma, pois Cristo declarou: "Eu e o Pai somos um" (João 10:30). Eles não romperam, com Cristo estabelecendo nova legislação, suplantando a lei divina, como quase dão a entender alguns. Sempre, em todos os tempos, a lei de Deus firmou-se no princípio de amor a Deus sobre todas as coisas (os primeiros quatro mandamentos) e amor ao próximo (os últimos seis mandamentos).

Sr. Oliveira: Mas Paulo não fala tanto sobre o fim do regime da lei em Romanos, Gálatas, Efésios?"

Beto: Sim, ele mostra que a lei não pode ser tida como fonte de salvação, pois ele mesmo tinha sido fariseu e conhecia bem a mentalidade de seus ex-companheiros de convicção e prática religiosa. A obediência aos mandamentos de Cristo ou de Deus não entram no campo da justificação, que é tão-só pela fé, mas têm que ver com santificação. O mesmo apóstolo Paulo, porém, diz em Romanos 3:31 que a fé não anula a lei, ao contrário, serve para confirmá-la. E ele exalta a lei que diz ser "santa, justa, boa, prazerosa" em Romanos 7: 12, 22, 25 e a recomenda como regra de vida.

Sr. Oliveira: Onde Paulo recomenda a lei dos dez mandamentos como regra de vida para o cristão?"

Beto: Após citar vários mandamentos do Decálogo, Paulo conclui em Rom. 13:8-10: "O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor". Observe que ele diz "é", e não "era". Ele cita os mandamentos "não matarás" e "não adulterarás" e a seguir diz retoricamente, "e se há qualquer outro mandamento. . .". Ou seja, ele está abrangendo todos os mandamentos do Decálogo, do qual cita alguns poucos, mostrando que o amor é a motivação subjacente da genuína obediência aos mandamentos de Deus.

Aliás, ele naturalmente recomenda o 5o. mandamento aos filhos dos efésios em Efésios 6:1-3 e fala em 1 Coríntios 7:19 que a questão de circuncisão/incircuncisão não tem mais validade, e o que importa é obedecer aos mandamentos de Deus. Em vista do tratamento que ele mesmo dá em Romanos 13 e Efésios 6 aos mandamentos do Decálogo, fica claro que considerava esses "mandamentos de Deus" exatamente os do Decálogo, ainda que não exclusivamente estes. Isso refuta totalmente a tese de Paulo ter ensinado o fim da vigência da lei moral dos Dez mandamentos como norma de conduta cristã. E Tiago segue a mesma linha paulina no capítulo 2, vs. 8 a 12 de sua epístola. . .

Sr. Oliveira: Gostaria que comentasse uma passagem bíblica que parece ter interpretações bem díspares entre os evangélicos e os adventistas. Trata-se de Mateus 5:17-19. Jesus diz que não veio abolir a lei, mas sim cumprir. Os adventistas entendem que com estas palavras Cristo diz que veio obedecer a lei e que devemos fazer o mesmo, enquanto os evangélicos entendem que Ele veio cumprir para torná-la sem efeito. Que razões me dá para sustentar a sua opinião?

Beto: Primeiramente eu lembraria que não são todos os evangélicos que assim pensam. Citaria as palavras de pelo menos um, dentre muitos, que consta deste livro que tenho comigo: Salomão Ginsburg, afamado ministro batista, em seu livro O Decálogo ou os Dez Mandamentos, págs. 4 e 7, declara:


"As idéias que alguns fazem da Lei de Deus são errôneas e muitas vezes perniciosas. O arrojo ou a ousadia dos tais, chega ao ponto de ensinar ou fazer sentir que a Lei já foi abolida. . . . Os que ensinam a mentira de que a Lei não possui mais valor . . . ainda não leram com certeza os versículos que nos servem de texto (Mat. 5:17-19). Deus não muda, nem o Seu poder, nem a Sua glória; os Seus preceitos são eternos. . . . Essa Lei é toda digna de nossa admiração, respeito e acatamento. Jesus veio pôr em prática a Lei e não abolir".


Vejam como ele é rigoroso para com os que contrariam o princípio de que o Decálogo é norma de conduta cristã, certamente pensando nos dispensacionalistas que surgiram contradizendo os históricos documentos de expressão de fé das igrejas protestantes. Ele diz ser uma "mentira" alegar o que esse pessoal afirma sobre o fim da lei!

Por outro lado, Jesus jamais poderia tornar sem efeito a lei moral de Deus porque do contrário, estariam liberados todos os pecados apontados por essa lei--"não matarás", "não furtarás", "não adulterarás", "honra teu pai e tua mãe". . . . Também devem se lembrar de tudo quanto examinamos da vez passada, como os documentos históricos da cristandade protestante e grandes próceres e autores das várias igrejas entendem que esses mandamentos são a norma de conduta para os cristãos.

Sr. Oliveira: Se de fato ainda temos esses mandamentos como norma de conduta fica difícil compreender como Jesus tornou sem efeito a lei, por cumpri-la.

Beto: Pois lhe digo mais: No próprio contexto da passagem em que Cristo fala "não vim abolir", Ele faz no verso 19 a recomendação de que tal lei seja rigorosamente obedecida, o que não faria sentido se a intenção Dele fosse ensinar que os Seus ouvintes estavam liberados da necessidade de obedecer a lei, não a tendo como norma de conduta.

Dna. Rosa: Mas em que sentido Ele fala em "cumprir", então?

Beto: Vamos tentar esclarecer. Muita discussão tem-se levantado sobre o sentido de palavras nessa passagem. Há quem diga que "cumprir" significaria fazer com que cesse sua vigência após Ele tê-la "cumprido". É verdade que a palavra "cumprir" tem um sentido ambíguo. Quando se diz, "cumpri as ordens do chefe" logicamente significa que preencheu-se inteiramente o que tal ordem requeria, e nada há mais a ser feito, em termos da execução da mesma.

Contudo, cumprir também significa obedecer plenamente, e Cristo realizou ambas as coisas--Ele cumpriu a lei nos seus aspectos prefigurativos, não mais restando a nós cumprir qualquer de tais ordens divinas (a lei cerimonial), mas Ele também a cumpriu no sentido de dar-lhe perfeita obediência. Foi o que Ele também fez quanto ao batismo de João. Quando o precursor do Messias protestou ante o desejo demonstrado por Cristo de submeter-Se ao batismo que aquele promovia, Suas palavras foram: "Convém cumprir toda a justiça" (Mat. 3:15). Por "cumprir" o rito batismal, estaria Jesus tornado-o dispensável aos cristãos, ou apoiando-O com o Seu santo exemplo?

Dna. Rosa: Nesse caso "cumprir" certamente é praticar o ato. . .

Beto: Exatamente. Também a moldura contextual em que se acha a passagem que estamos analisando é altamente significativa. No vs. 16 Jesus recomendou a Sua platéia: "Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus". Portanto, a ênfase é sobre a prática de obras da parte deles, pouco antes comparados a "sal da terra e luz do mundo". No vs. 19, Cristo reitera: "Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus". Seria estranho Cristo ressaltar a importância de estrita obediência a mandamentos que, por Ele os cumprir, faria com que perdessem o valor! Ademais, vem o verso 20 que liqüida a questão do real sentido dos versos precedentes: "Porque eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus".

Ora, o que importava, nos dizeres de Cristo, era que os discípulos obedecessem aos mandamentos, mediante obras que atraíssem o louvor dos homens a Deus (vs. 16), e que tal obediência fosse exemplar e superior à mera religiosidade exterior e apego à letra da lei por escribas e fariseus (vs. 19 e 20).

Sr. Oliveira: Mas Cristo não usa daquelas comparações--"ouvistes o que foi dito aos antigos . . . eu, porém, vos digo. . .", parecendo que está contrastando entre a antiga lei e a nova?

Beto: Na seqüência dessas instruções que analisamos Cristo passa a realçar o sentido mais profundo, ético e espiritual da lei, através das famosas declarações, "ouvistes o que foi dito aos antigos . . . Eu porém vos digo. . ." Ora, não concorda comigo que sempre foi errado olhar para uma mulher com sentimentos impuros, ou odiar alguém? Assim, não se trata de nenhuma nova legislação que Cristo pretende estabelecer, mas mostrar o caráter mais profundo e espiritual da lei.

Agora, isto é muito importante: Por todo o Seu famoso Sermão da Montanha, Cristo jamais sugere qualquer intenção de eliminar a lei divina nos seus aspectos morais e éticos, ou modificá-la em qualquer medida. Antes, a ênfase é sobre os aspectos negligenciados dessa lei por aqueles que tanto a exaltavam, porém não percebiam o seu real sentido, apegados como estavam à letra, perdendo de vista o seu espírito. Não devia ser essa a atitude dos discípulos. Então, a leitura detida de todo o texto de Mateus 5:17, 18 à luz de seu contexto imediato e mais amplo destrói a noção de ruptura da legislação divina nos seus aspectos morais com a vinda de Cristo.

Sr. Oliveira: É, mas creio que não devemos mais observar o sábado judaico, pois o domingo é uma homenagem à Ressurreição e tem sido a prática da Igreja Cristã há séculos, embora realmente a Bíblia não estipule um dia de observância para os cristãos. Podemos escolher qualquer dia, ou dia nenhum, à luz de Romanos 14:6.

Beto: Por que chama ao sábado de "judaico"? Que tal os demais mandamentos do mesmo código do qual o sábado faz parte--"não matarás", "não furtarás", "não dirás o nome do Senhor teu Deus em vão", "honra a teu pai e a tua mãe". Seriam esses mandamentos também judaicos? Não estaria discriminando contra um dos mandamentos divinos?

Sr. Oliveira: Ocorre que todos os demais mandamentos estão repetidos no Novo Testamento, menos o do sábado. . .
Beto: Amigo, veja bem: o objetivo do Novo Testamento não é revalidar mandamentos do Velho Testamento e sim narrar a vida e obra do prometido Messias de Israel bem como Sua morte expiatória na cruz e o sentido disso tudo para toda a raça humana. Na verdade não há referências diretas ao mandamento contra a veneração de imagens, nem contra o falar o nome de Deus em vão, apenas referências indiretas no Novo Testamento. Mas os leitores originais dos evangelhos e epístolas sabiam que as referências indiretas diziam respeito àquelas leis do Decálogo que inclusive os cristãos evangélicos historicamente têm entendido ser a norma de conduta para os cristãos também.

Aliás, sabia que não há nenhum mandamento contra a consulta aos mortos no Novo Testamento, e alguns usam esse argumento para dizer que a proibição contra tal prática era coisa só da velha lei? Por sinal, o dízimo também é adotado pela maior parte das igrejas quando há somente referências indiretas ao mesmo também no Novo Testamento".

Sr. Oliveira: É, confesso que não havia reparado nesses detalhes, mas não temos agora um Novo Concerto que aboliu o antigo?

Beto: Sem dúvida, estamos sob o Novo Concerto, mas observe que a passagem-chave do Novo Testamento, onde exatamente explica esse detalhe da passagem do Velho para o Novo Concerto trata de como Deus escreve o que é chamado "as Minhas leis" nos corações e mentes dos que aceitam os termos do evangelho, como é dito em Hebreus 8:6-10. Leia bem este texto depois e verá que não consta que quando essas leis divinas são escritas nos corações e mentes dos que aceitam os termos do novo concerto--ou Novo Testamento--Deus deixa de fora o 4o. mandamento, ou o domingo toma o lugar do sábado.

Sr. Oliveira: Bem, de fato não está escrito que Deus deixou de fora algum mandamento, ou que o domingo tomou o lugar do sábado, contudo o que me diz daquela passagem que mencionei, Romanos 14:6?

Beto: A Bíblia diz que "Deus é um Deus de ordem, e não de confusão". Não acha que seria muito confusa essa questão de cada um observar o dia que melhor lhe convier, um o domingo, outro a quarta-feira, outro a sexta-feira, outro o sábado, outro dia nenhum? Afinal, em que dia se reuniriam para o culto a Deus e comunhão fraternal?

Romanos 14:6 deve ser compreendido à luz de seu contexto histórico. Paulo está falando aos judeus cristãos que ficava em aberto manterem ou não a celebração de certos dias festivos da nação de Israel, da qual eram cidadãos, como o Dia de Pentecoste, a Festa do Purim, a Festa dos Tabernáculos, etc. Também havia certos dias designados para jejum segundo costumes seculares dos judeus, então os crentes de origem judaica podiam seguir tais costumes ou não. Como eram israelitas nativos, aqueles "feriados nacionais" tinham para eles significação muito especial de caráter patriótico e religioso.

Mas jamais o apóstolo iria mudar o princípio do sábado, tão arraigado na cultura e religião do povo de Israel, pois isso seria contradizer as próprias palavras de Cristo--"o sábado foi feito por causa do homem" (Mar. 2:27), além do que ele não teria condições de declarar depois, como lemos em Atos 25:8: "Nenhum pecado cometi contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César".

Também se houvesse tal critério entre os cristãos primitivos, teríamos registro bíblico e histórico disso, e nunca tais estranhas regras quanto ao princípio de repouso bíblico foram encontradas em qualquer dessas fontes de informação.

Sr. Oliveira: Bem, eu aprendi que agora os cristãos realmente têm somente a lei de amor para seguir, como você mesmo citou sobre os dois mandamentos, sendo essa a nova regra, e os dez mandamentos não são mais norma de conduta para o cristão.

Beto: Eu não sei qual é a sua igreja, mas saiba que parece haver uma lamentável negligência dos instrutores das diferentes igrejas evangélicas que não informam aos membros sobre o teor de suas Confissões de Fé históricas, pois para batistas, presbiterianos, luteranos, metodistas, congregacionais, episcopais, etc., há claros documentos confessionais estabelecendo que o Decálogo em todos os seus preceitos é ainda normativo para os cristãos. E isso é confirmado por comentários específicos sobre a validade e vigência do Decálogo por autores evangélicos do maior coturno moral, espiritual e intelectual, do passado e do presente, como Lutero, Calvino, Wesley, Moody, Spurgeon, Billy Graham, James D. Kennedy, Amaral Fanini, Harold Brokke, Dinelcir S. Lima e muitos outros.

Sr. Oliveira: Eu sou batista, e realmente desconhecia que havia documentos históricos dos batistas, ou autores como Moody ou Billy Graham, falando que o Decálogo é norma de conduta. Mas garanto que nenhum deles observava o sábado do sétimo dia.

Beto: Não, mas eles confirmam a validade do princípio de um dia de repouso, derivado do Éden, no qual não se devem realizar atividades de cunho secular ou recreativo. Há até uma instituição nos EUA, ligada à poderosa Convenção Batista do Sul, chamada "Aliança do Dia do Senhor" cujo objetivo é buscar inspirar os cristãos batistas, ou de outras denominações, a observarem o domingo mais zelosamente. Contudo, onde estão as provas de que quando Deus escreve as Suas leis nos corações e mentes dos que aceitam os termos de Seu novo concerto (Novo Testamento), Ele deixa de fora o 4o. mandamento ou muda o sábado para o domingo, especialmente à luz de Hebreus 8:6-10?

Sr. Oliveira: Eu realmente não saberia lhe responder a esta pergunta. Mas, façamos o seguinte: Volte aqui na semana que vem que vou consultar o meu pastor e outros entendidos em Teologia de minha igreja e lhe darei uma resposta.

Beto: Tudo bem, voltarei sim. Mas gostaria de sugerir que até lá pesquisasse nos documentos históricos da sua igreja no que tange ao tema da lei, e compare com o que dizem os de outras igrejas nesse mesmo sentido, se tiver meios.

Sr. Oliveira: Oh, sim, eu farei isso. Aliás, minha esposa é presbiteriana e temos aqui o Catecismo Maior da igreja dela com os princípios básicos da fé como devem ser aceitos pelos presbiterianos. E temos um filho que assiste na Igreja Metodista, e sei que eles têm um livro que traz os "39 Artigos de Religião da Igreja da Inglaterra", e verei o que diz lá sobre o tema da lei. Também temos uma filha que assiste na Igreja Congregacional e ela tem um manual de sua igreja com a declaração de fé dos congregacionais. Posso ver também com o vizinho ao lado, que é da Assembléia de Deus, o que os próceres de sua denominação têm a dizer a respeito.

Beto: Ótimo, posso ver que tem excelente material para uma boa pesquisa. Bem, então ficamos combinados. Na próxima semana eu voltarei e conversaremos mais a respeito. Até então.


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Diálogo de Um Adventista Com Membros de Outra Igreja Evangélica--A Nossa Versão-II

[Passada a semana, Beto retorna à casa do Sr. Oliveira]:

Sr. Oliveira: Olá, irmão, seja bem-vindo. Prazer em revê-lo.

Beto: O prazer é todo meu. E como passou a semana?

Sr. Oliveira: Tudo bem. Ou melhor, mais ou menos. Para entrar direto na questão que estávamos analisando quero dizer que fiz uma pesquisa bem ampla das confissões doutrinárias históricas e oficiais das várias igrejas, como sugeriu.

Beto: E que tal? Chegou a alguma conclusão importante?

Sr. Oliveira: Confesso que estou perplexo.

Beto: Por favor, explique melhor isso.

Sr. Oliveira: Nunca imaginei que esses documentos oficiais de batistas, presbiterianos, metodistas, assembleianos falassem tão claramente da lei dos dez mandamentos como devendo ser ainda a norma de conduta cristã, quando nas igrejas o que ouvimos é algo muito diferente.

[Dona Rosa, esposa do Sr. Oliveira, está presente ao novo encontro dos dois homens, e dá também o seu parecer]:

Dna. Rosa: Na minha igreja sempre ouvi que quando encontrássemos um 'sabatista' bastava ler para ele muitas passagens de Gálatas mostrando como a lei foi abolida que esse pobre infeliz perderia todo o rebolado e não nos incomodaria mais com suas teorias. Contudo, o que vejo no Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana é algo muito diferente.

Beto: Poderia ler para nós o que diz lá?

Dna. Rosa: Pois não. Leio do documento "Confissão de Fé de Westminster", que é historicamente a confissão adotada pelos presbiterianos:

"I. Deus deu a Adão uma lei, como um concerto de obras, pelo qual ele se sujeitava e toda a sua posteridade à obediência pessoal, completa, exata e perpétua; prometia vida ante o cumprimento, e ameaçava de morte por sua quebra; e o capacitava de poder e habilidade para cumpri-la.

"II. Essa lei, após a queda, continuou a ser a perfeita regra de justiça; e, como tal, foi concedida por Deus sobre o Monte Sinai em dez mandamentos, e escrita em duas tábuas; os primeiros quatro mandamentos contendo o nosso dever para com Deus, e os outros seis o nosso dever para com o homem.

"III. Além dessa lei, comumente chamada moral, Deus agradou-Se de dar ao povo de Israel, como uma Igreja em minoridade, leis cerimoniais, contendo várias ordenanças típicas, parcialmente de culto, prefigurando a Cristo, Suas graças, ações, sofrimentos, e beneficios; e parcialmente estabelecendo diversas instruções de deveres morais. Todas essas leis cerimoniais estão agora abrogadas sob o Novo Testamento.

"IV. A eles também, como um corpo político, Ele concedeu vários leis judiciais, que expiraram juntamente com o Estado daquele povo [judaico], não obrigando quaisquer outros agora, mais do que a igualdade geral que a mesma possa exigir". -- Confissão de Fé de Westminster, Cap. 19, citado em Philip Schaff, The Creeds of Christendom [Os Credos da Cristandade], Vol. 3, pág. 640, 641.

Sr. Oliveira: O meu filho também me forneceu a informação do que os metodistas oficialmente aprendem em seus "39 Artigos de Religião da Igreja da Inglaterra", e eis o que diz em certa parte:

"O Velho Testamento não é contrário ao Novo: pois tanto no Velho quanto no Novo Testamento a vida eterna é oferecida à humanidade por Cristo, que é o único mediador entre Deus e o homem, sendo tanto Deus quanto homem. . . . Conquanto a lei dada por Deus mediante Moisés, no que tange a cerimônias e ritos, não seja vigente para os cristãos, nem os seus preceitos civis . . . não obstante nenhum cristão de modo algum está livre da obediência aos mandamentos que são denominados Morais".--Artigo 7 dos "Trinta e Nove Artigos de Religião".

Beto: Isso é realmente muito interessante. Em ambos esses documentos há até o reconhecimento da divisão das leis bíblicas em morais, rituais, civis, etc. Agora, vejam como são as coisas--vi um artigo de certo "apologista cristão" na Internet informando o "respeitável público" evangélico de que essa divisão das leis era pura "invenção de adventista". . .

Dna. Rosa: Minha filha, que assiste na Igreja Congregacional porque tem um namoradinho lá, trouxe-me a declaração doutrinária oficial que tem 28 artigos, e o de no. 21 trata exatamente da questão "Da Obediência dos Crentes". É curtinho e vou ler para vocês:


"Ainda que os salvos não obtenham a salvação pela obediência à lei, senão pelos merecimentos de Jesus Cristo, recebem a lei e todos os preceitos de Deus como um meio pelo qual Ele manifesta sua vontade sobre o procedimento dos remidos e guardam-nos tanto mais cuidadosa e gratamente por se acharem salvos de graça. Ef 2:8,9; I Jo 5:2,3; Tt 3:4-8".

Beto: Esta é para mim a melhor de todas essas confissões doutrinárias, pois sintetiza bem, em poucas palavras, exatamente o espírito da justificação em relação com a santificação, a fé e as obras, a graça e a lei. Pode-se ver que são conceitos que não se conflitam, mas harmonizam-se, cada qual cumprindo o seu devido papel. Assim como dois trilhos de uma ferrovia correm paralelamente para permitir o avanço seguro da composição, a lei e a graça, a fé e as obras, a justificação e a santificação mantêm-se em harmonia e equilíbrio na vida da pessoa. "A fé se não tiver obras está morta", explicou Tiago.

Dna. Rosa: E minha filha também mostrou-me a letra de alguns hinos do hinário oficial dos congregacionais, o Salmos e Hinos, e o de no. 517 assim diz, em certa parte:

"Salvação por homens dada, paz fingida, paz comprada, lei de Deus falsificada, tudo rejeitai! Lei de Deus não muda, o Senhor ajuda a quem cumprir sem desistir".

Beto: Quão verdadeiras são tais palavras desse inspirado compositor cristão. Mas, para completar, permitam-me ler o que tenho aqui sobre o pensamento dos luteranos também. Diz a "Fórmula de Concórdia", Artigo 6.

"Conquanto aqueles que verdadeiramente crêem em Cristo, e são sinceramente convertidos a Deus, estão mediante Cristo libertos da maldição e restrições da Lei, não obstante não estão, nesse sentido, sem Lei, uma vez que o Filho de Deus os redimiu para a razão mesma de que possam meditar sobre a Lei de Deus dia e noite, e continuamente exercitar-se em sua observância".

Sr. Oliveira: Sinceramente, não entendo por que se há tudo isso escrito como documentos históricos e oficiais das igrejas, o que se ensina sobre isso é tão diferente. . .

Beto: Bem, minha gente, é realmente lamentável que os instrutores religiosos das diferentes igrejas soneguem sistematicamente essas informações de seus membros, e assim vemos luteranos atropelando Lutero, metodistas desconsiderando o que Wesley ensinou, presbiterianos passando por cima das instruções de Calvino bem como as expressões de seus ensinos nas Confissões de Fé históricas das igrejas que fundaram.

Apresentei esses fatos a certo instrutor religioso de um "ministério anti-seitas" que combate virulentamente os adventistas e este declarou que não se impressionava com essas declarações todas pois, nas palavras dele, ". . . elas são frutos do pensamento dos reformadores que foram de certo modo produto do seu meio e de sua época, moldados pelas experiências de vida de cada um". Só que muitas dessas Confissões de Fé são de período bem posterior ao tempo dos Reformadores. Na própria homepage da Convenção Batista Brasileira há uma moderníssima Declaração Doutrinária que fala de Confissões de Fé batistas anteriores sobre que se estrutura, e essa Declaração Doutrinária dos batistas traz no seu Tópico X uma definição da validade do 4o. mandamento do Decálogo--sob o título "O Dia do Senhor". Ao defender a instituição de um dia de repouso (aplicam-na ao domingo) citam como referências comprobatórias passagens tais como Gên. 2:2, 3; Êxo. 20:8-11 e até Mat. 12:8 (Jesus declarando-Se "Senhor do sábado").

Sr. Oliveira: Pois é, eu também perguntei a um oficial da minha igreja sobre isso e ele disse que os batistas também contam com o princípio da "liberdade individual" para a interpretação da Bíblia. Insisti em saber com ele se tal "liberdade" significava que eu podia reinterpretar e desconsiderar esse Tópico X da Declaração Doutrinária, pois se a resposta fosse positiva, então certamente isso se aplicaria a quaisquer outros tópicos da mesma Declaração.

Dna. Rosa: E o que ele respondeu?

Sr. Oliveira: Ele olhou para o relógio, pediu desculpas e me deixou praticamente falando sozinho, alegando ter um compromisso e saiu rapidinho, sem sequer prometer que voltaria depois a tratar do assunto comigo.

Beto: Bem, temos essa realidade a considerar: as mais representativas Confissões de Fé da cristandade protestante, inclusive da Igreja Batista, estabelecem princípios sobre o Decálogo que modernamente os evangélicos que a elas deviam atentar e respeitar não estão levando em conta. Mas podem crer que o motivo para tudo isso não é o primeiro mandamento do Decálogo, "não terás outros deuses diante de Mim", nem o segundo, "não farás para ti imagem de escultura", nem o terceiro, "não dirás o nome do Senhor teu Deus em vão", nem o quinto, "honra a teu pai e tua mãe", nem o sexto, "não matarás", nem o sétimo, "não adulterarás", nem o oitavo, "não furtarás", nem o nono, "não dirás falso testemunho contra o teu próximo", nem o décimo, "não cobiçarás".

Toda essa reinterpretação dessas declarações oficiais que expressam o pensamento consensual desses cristãos do passado, tido ainda teoricamente por válidos no presente, é só e tão somente para evitarem o que foi considerado num artigo da revista Christianity Today, o mandamento mais negligenciado pela cristandade--o mandamento do sábado, ou do dia de repouso.

Mesmo aqueles que alegam, "minha igreja não é confessional" precisam então explicar por que negligenciam ou reinterpretam este único dentre os mandamentos divinos, constante de um documento cristão essencial chamado Bíblia Sagrada.

Os caminhos para explicar isso são:

a) A lei dos Dez Mandamentos foi abolida na cruz, indo de embrulho com todo o cerimonialismo judaico.

b) Os Dez Mandamentos prosseguem como norma de conduta cristã, mas o seu 4o. mandamento foi alterado, mudando-se o dia de descanso e adoração especial a Deus do 7o. para o 1o. dia da semana;

c) Agora vivemos sob a "lei de Cristo" que estabelece todas as regras do Decálogo sem as "roupagens judaicas", menos o mandamento do sábado. Assim, não há nem sábado nem domingo para se observar, ficando cada um livre quanto ao que fazer em todos os dias da semana, devendo, porém, assistir regularmente à igreja no dia que esta estabelecer segundo sua tradição. Coincidentemente, esse dia 'livremente escolhido' é sempre o domingo!

Sr. Oliveira: Mas deixemos de lado esses documentos extrabíblicos, embora importantes, e voltemos à Bíblia. Gostaria que me explicasse o que Paulo quer dizer em 2 Coríntios 3, vs. 3, 6 e 7, onde compara "as tábuas de pedra" a um "ministério de morte".

Beto: Em 2 Coríntios 3, vs. 3, 6 e 7 Paulo de fato faz alusão às tábuas de pedra (como um "ministério de morte") e fala também das "tábuas de carne, do coração" como representando a verdadeira expressão de religião aceitável a Deus. Essa linguagem é significativa, pois certamente ao pensar em "tábuas . . . do coração" em cotejo com as tábuas de pedra percebe-se que ele pensa em termos de todo o conteúdo das tábuas de pedra--a fria letra da lei--devendo transferir-se aos corações aquecidos pela graça divina.

Como lhe era costumeiro, Paulo aí está claramente fazendo alusão a uma declaração do Velho Testamento, nesse caso à declaração de Ezequiel 36:26, 27--a promessa de que Deus mudaria o coração de pedra do Seu povo e daria um coração de carne para que nele pudesse registrar os Seus mandamentos e estatutos. Essa promessa cumpriu-se no Novo Concerto (Hebreus 8:6-10 e 10:16) quando é indicado que Deus escreveria o que seriam "as Minhas leis", as mesmas certamente que constavam do concerto oferecido anteriormente a Israel nacional em Jeremias 31:31-33.

Os leitores primários de Hebreus entenderiam que essas "Minhas leis", de Deus referiam-se às mesmas que estavam vigentes ao tempo em que a mesma promessa foi feita ao Israel literal em Jeremias 31:31-33. E são as mesmas leis de Cristo. Não disse Ele, "Eu e o Pai somos um"? Com o rasgar do véu do Templo findando o cerimonialismo, acaso os mandamentos morais findaram? Poderiam doravante matar, roubar, adulterar, adorar ídolos, proferir o nome de Deus em vão? Claro que não. Pois essa é a perspectiva cristocêntrica: o "cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". As cerimônias eram o tipo dos antitipos do velho pacto e com o fim do velho concerto, perderam a sua função.

Dna. Rosa: Mas por que foi necessário oferecer um Novo Concerto a Israel? Isso não revela que a lei não mais valia por não ter resolvido o problema espiritual daquele povo? Por favor, esclareça melhor este ponto: Afinal, Paulo em 2 Coríntios 3 está ou não considerando esses mandamentos das tábuas de pedra um "ministério de morte"?

Beto: Temos que definir onde estava o problema do fracasso espiritual de Israel. Considerar os Dez Mandamentos como um "ministério de morte" é um absurdo, veja bem: Tomando por base o fato de que em 2 Coríntios 3, ao falar da ministração do antigo concerto em contraste com o do novo, Paulo atribui-lhe o qualificativo de "ministério da morte", alguns confudem as coisas por ele mencionar as tábuas de pedra e imaginam que essas tábuas de pedra, ou o que elas representam (os dez mandamentos) é que se constituiriam o "ministério da morte". Então, não há saída--o Deus que Se apresentava a Israel como "longânimo, misericordioso, bondoso, piedoso e perdoador" na verdade preparou foi uma terrível armadilha para aquele povo no Sinai, eis que lhes ofereceu ali uma norma legal que resultaria inapelavelmente em morte! Deixou em reserva a "lei do amor e graça" só para o povo do Novo Testamento! É esse o Deus que não faz acepção de pessoas?

Retornando ao ambiente onde a lei divina foi solenemente proclamada ao povo, lemos em Êxo. 19:10ss a ordem de Deus para o povo purificar-se, e até abster-se de atividade sexual (vs. 15) para uma dedicação integral a Ele em preparação ao proferimento da lei.

Limites foram estabelecidos ao redor do monte para o povo não dirigir-se até ali, e finalmente os Dez Mandamentos foram audivelmente pronunciados. Agora, tanta preparação, tanta expectativa, tanta solenidade para a entrega de . . . uma "lei da morte"! É incrível! Eu me sentiria trapaceado! E, no entanto, é, no fundo, a exegese que se lê nos escritos desses intérpretes semi-antinomistas que não conseguem perceber que "a lei do Senhor é perfeita e restaura a alma", como disse o salmista (Sal. 19:7) referindo-se a TODA a lei (Torah), é verdade, o que significa inclusão, não exclusão, do Decálogo e, dentro dele, do mandamento do sábado.

Então, algo saiu errado nesse concerto, transformando-se sua ministração em algo gerador de morte. Por quê? Onde se situa o problema? Era a lei desse teor, transmissora de morte? Então não poderia ser perfeita.

Dna. Rosa: Pois é, então como entender essa questão?

Beto: O problema, minha irmã, não estava com a lei, e sim com o povo que tão precipitadamente declarou: "tudo o que o Senhor falou, faremos" (Êxo. 19:8) antes mesmo de conhecer plenamente o que seria pronunciado. Era um povo de "dura cerviz", tantas vezes condenado por seus tropeços. Então, é tão fácil de entender isso--repito: o problema não estava na lei, e sim no povo, o que é tornado muito claro na promessa do Novo Concerto já ao tempo de Jeremias--"tirarei o vosso coração de pedra". Destarte, o que havia de errado era o coração do povo, daí a necessidade de o povo mudar de atitude, permitir que Deus operasse essa mudança de coração--o coração de pedra eliminado e trocado por um de carne. Veja como isso se confirma na própria promessa divina como reiterada para o Novo Israel, em Hebreus 8:9: "eles não continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor".

Os efeitos da aceitação desse novo concerto se percebem em Rom. 8: 3 e 4 onde é mostrado que "a justiça da lei", ou, como diz outra versão, "o preceito da lei", se cumpre na vida de quem tem a Cristo e não anda segundo a carne (ou seja, na prática do pecado, que é "transgressão da lei"--1 João 3:4), mas segundo o Espírito. Ora, como a "justiça" ou "preceito" de uma lei do pecado e da morte, inteiramente abolida, poderia se cumprir na vida de um cristão? Por aí se vê como essa gente da linha semi-antinomista, dispensacionalista, está desviada da rota da correta exegese bíblica.

Portanto, vale a pena reiterar este ponto essencial que os semi-antinomistas em geral não conseguem entender: a mudança necessária não era da lei, e sim do coração do povo. A falha não era da lei, mas do povo. O que precisava mudar não era a lei, e sim o coração, ou mentalidade, do povo.

Sr. Oliveira: Bem, eu aprendi também que os dois mandamentos que discutimos em nosso primeiro encontro, "amar a Deus sobre todas as coisas" e "amar ao próximo como a ti mesmo" não estão inseridos no texto do Decálogo, então não teriam nada a ver com essa regra legal.

Beto: Para mim, negar que o Decálogo tenha por base o princípio de amor a Deus e ao próximo é uma das interpretações mais absurdas que já vi ocorrer no seio evangélico. Houve até quem alegasse que "graça" e "amor" são coisas diferentes, como se a "benignidade imerecida" não se inspirasse no amor imerecido da parte de Deus ao homem.

Mesmo porque quem alega isso terá que explicar então qual era o princípio motivador da obediência a essa lei, se não fosse o amor. Para os que achavam ter que cumpri-la só nessa base, porque a letra assim o exigia e por temer as conseqüências de não cumpri-la, então, sim, esse seria o princípio de morte, não de vida. Sem falar em como os grandes pensadores cristãos e as Confissões de Fé históricas da cristandade protestante sempre entenderam que a "lei áurea" é a síntese da lei divina compendiada no Decálogo, válido como regra de conduta cristã.

Basta ler Deuteronômio 6 para perceber o apelo divino, ao Moisés interpretar ao povo o sentido de tudo quanto viu e ouviu junto ao Sinai, a que acatassem voluntariamente as Suas palavras recém proferidas solenemente, sob o princípio da lei áurea--"amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força" (Deut. 6:5). Só tendo esse amor é que eles poderiam ter estas palavras em seus corações.

O que Moisés está apresentando aí é o princípio básico que governa a obediência à lei--o amor a Deus. Pois, como vimos em nossa primeira conversa, Jesus repetiu tais palavas, obtendo aprovação de um jurista judaico por perceber o acerto delas na definição de qual era o grande mandamento da lei. Jesus repetiu este, e o outro paralelo, "amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Lev. 19:18, cf. Mateus 22:36-40). Ora, quem alega que Jesus neste caso não mencionou nenhum mandamento do Decálogo será que não consegue ler o que diz o vs. 40? "Destes dois mandamentos DEPENDEM toda a lei e os profetas"? É tão claro que Ele está falando de PRINCÍPIOS básicos da lei. E Paulo repete a mesma idéia em Romanos 13:10--"o cumprimento da lei é o amor", após repetir alguns dos mandamentos do Decálogo.

Em Mateus 19:16-22 vemos mais uma vez como esse princípio de "amar ao próximo" tem TUDO A VER com o Decálogo. Jesus recomenda ao jovem rico que guardasse os mandamentos. Este diz que o tinha feito desde sua juventude após ouvir de Cristo a repetição da parte da lei relativa ao relacionamento criatura-criatura, citando-lhe vários mandamentos e incluindo como fecho: "amarás o teu próximo como a ti mesmo" (ver Marcos 10:17-22). É tão claro e lógico, mas parece que muitos religiosos por aí não conseguem entender isso, com o que contrariam o pensamento dos grandes próceres cristãos do passado e do presente que entendiam as coisas exatamente nessa linha.

Sr. Oliveira: Creio que sua exposição sobre a validade da lei não só à luz dos ensinamentos oficiais desses importantes documentos históricos cristãos, mas principalmente segundo uma cuidadosa análise do texto bíblico foi preciosa e esclarecedora. Agora gostaria que nos dedicássemos a examinar essa questão do sábado/domingo/dia nenhum. Mas como a hora já está avançada e já estudamos tanta coisa, que tal voltar na próxima semana para analisarmos essa questão?

Beto: Sem dúvida, aceito a sugestão e convite com prazer. Na próxima semana estaremos aqui para mais um estudo desses importantes tema teológicos, se Deus quiser. . .


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Diálogo de Um Adventista Com Membros de Outra Igreja Evangélica--A Nossa Versão-III

[Mais uma semana se passa e, como combinado, Beto aparece na casa dos Oliveiras].

Sr. Oliveira: Muito bem, irmão, hoje gostaria que me explicasse as atitudes de Cristo para com o sábado. Eu sei que Jesus não poderia ser um violador do sábado, como vejo alguns crentes alegando, pois do contrário Ele estaria pecando. Mas por que Ele disse certas coisas sobre o sábado que parece estar querendo indicar sua abolição?

Beto: Na própria seqüência do Seu sermão do monte encontramos Cristo, em pleno exercício de Seu ministério, confrontando fariseus e saduceus no que tange à observância do sábado. É aí onde muitos se atrapalham e não percebem o sentido mais amplo e profundo desses debates. Como já têm o pressuposto de que Cristo teria votado os mandamentos do Decálogo ao desprezo, por ser uma norma a ser superada por Sua lei supostamente superior, imaginam que Cristo está transmitindo aos líderes judeus esse mesmo sentido que eles abrigam, mas que se choca com o teor geral do ensino neotestamentário, como também reconhecido pelas "Confissões de Fé" históricas da cristandade protestante e confirmado pelos mais gabaritados representantes das igrejas regidas por tais "Confissões de Fé" do passado e do presente, como Calvino, Moody, Spurgeon, Alberto Barnes, John Davis, Billy Graham, James Kennedy, Amaral Fanini, Orlando S. Boyer, Dinelcir de S. Lima, etc, etc.

Mas notem que Jesus Se defende das acusações dizendo que Suas curas no sábado eram atividades "lícitas" em Mateus 12:12, o que significa, de acordo com a lei. E Ele ainda identificou-se como "Senhor do sábado", no vs. 8. Os líderes judaicos não pervertiam o sentido só do mandamento do sábado, mas também do 5º. mandamento, por exemplo, como se pode ler em Marcos 7:8-10, e a prática do dizimar, como lemos em Mateus 23:23. Assim, a intenção de Cristo com as discussões era a de corrigir os desvios, as regras adicionadas pelos fariseus ao sábado, e não ensinar o fim do sábado, mesmo porque se Ele quisesse dizer isso, o faria abertamente, sem retrições, e não deixaria a coisa no ar, em linguagem cifrada para ser interpretada mais tarde pelos dispensacionalistas e outros anti-sabatistas como significando uma intenção de dar fim ao mandamento por Ele próprio estabelecido como Criador (Heb. 1:2). Ademais, sendo que Cristo declarou que "o sábado foi feito por causa do homem" (Marcos 2:27), por que iria Ele agora insurgir-se contra um preceito que visa ao melhor benefício para os seres humanos, descanso físico, mental e refrigério espiritual?

Sr. Oliveira: Bem, quando examinamos os documentos de Confissões de Fé, eles falam realmente sobre a validade e vigência do Decálogo como norma cristã, o que não se pode negar, mas também falam do domingo como tendo tomado o lugar do sábado do sétimo dia por causa da Ressurreição. Não acha que a Ressurreição é um evento importantíssimo, um marco da história cristã que merece um dia especial de celebração? E há textos enumerados nesses documentos que falam do primeiro dia da semana como se houvesse algo especial relativo a tal dia.

Beto: Pensando bem, tanto a Ressurreição como a morte de Cristo são eventos igualmente importantes, fundamentais para a fé cristã. Ambos poderiam merecer um dia especial comemorativo. Se a Ressurreição devesse ser celebrada regularmente num dia especial dada a sua importância, por que não a morte do Salvador? Afinal, sem morte não haveria ressurreição e a ressurreição não se daria se não tivesse ocorrido a morte. Então, temos dois acontecimentos exponenciais para o cristão--a morte e a ressurreição de Cristo. Qual mereceria um dia memorial? Possivelmente ambos, mas as Escrituras não estabelecem isto, nada fica implícito de que houve alteração no texto da lei divina por causa de qualquer desses eventos.

Dna Rosa: E o que nos diz das passagens que falam do primeiro dia da semana no Novo Testamento? Temos Marcos 16:1-11; Mateus 28:1 Luc.24:1, João 20:1, Atos 20:7, 1Cor. 16:2.

Beto: Vamos analisar rapidamente estas passagens: Os textos dos evangelhos falam apenas que Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana e apareceu aos discípulos que nem sabiam do evento. Estavam "reunidos, com medo dos judeus" (João 20:19) naquele dia, e não celebrando o dia da Ressurreição. Em João 20:26 a cláusula "passados oito dias" poderia muito bem significar um período de exatos oito dias, o que daria uma segunda-feira como o próximo dia do encontro de Cristo com os discípulos. Não obstante, mesmo que tal dia fosse outro domingo, isso nada prova em favor da guarda de tal dia pois nada indica ser esta a razão de o dia ser mencionado, sobretudo quando nenhuma menção se faz de alguma reunião comemorativa da Ressurreição em ligação com tal dia. O encontro entre Cristo e Seus apóstolos noutra ocasião ocorreu em dia não identificado, quando estavam pescando (João 21:4-7). Assim, não há nenhuma ênfase especial quanto aos dias em que Cristo aparecia, nem padrão de que tais aparecimentos ocorressem sempre no domingo por tal dia ter sido memorializado ou posto à parte como dia santificado.

Também é significativo que em Apo. 1:10, João se refere ao "dia do Senhor", que alguns dizem tratar-se do domingo. Todavia, ao escrever o seu evangelho, na mesma época, refere-se ao dia da Ressurreição como simplesmente "primeiro dia da semana", sem qualquer designação especial. Tampouco o critério para estabelecer os princípios da lei divina quanto ao dia de observância é alguma "série de acontecimentos" em determinado dia. Não há a mínima indicação de que tais acontecimentos fizeram com que a lei de Deus fosse por isso alterada por um claro "assim diz o Senhor".

Dna Rosa: Bem, há ainda os dois últimos textos que eu mencionei: Atos 20:7 e 1 Coríntios 16:2. Acaso eles não tratam de reunião de cristãos no primeiro dia da semana?

Beto: Em Atos 20:7 é relatado que Paulo teve uma reunião de despedida "no primeiro dia da semana" que, porém, era o que consideramos "sábado à noite". O dia dos judeus se inicia no pôr do sol. Por sinal, a tradução bíblica A Bíblia na Linguagem de Hoje, da Sociedade Bíblica do Brasil, refere-se ao episódio como tendo ocorrido num "sábado à noite". A edição equivalente em inglês, Good News for Modern Man, o confirma chamando aquele dia "Saturday evening" [sábado à noitinha], o que também é afirmado em nota de rodapé no Contemporary English Version, da American Bible Society [Sociedade Bíblica Americana]. No contexto percebe-se que o "partir do pão" era apenas uma refeição regular (Atos 2:46) e não o rito da Santa Ceia (referência também indicada na mesma nota de rodapé acima mencionada da CEV). Ademais, Paulo passou a manhã de domingo seguinte viajando, em lugar de ficar para a "escola dominical". . .

Em 1 Cor. 16:2 há referência a uma instrução de Paulo de que os cristãos reunissem recursos para ajudar os pobres de Jerusalém, no primeiro dia da semana. Pelo original grego isso devia ser feito "em casa" (par hauto), não na igreja. Também é significativo que isso foi escrito pelo ano 55 a 57 AD. Não se dá ao dia nenhum título especial de "dia do Senhor", sendo chamado meramente de "primeiro dia da semana".

Sr. Oliveira: E o que diz de Apoc. 1:10? Algumas versões bíblicas dizem claramente, "achei-me em espírito no domingo".

Beto: As versões bíblicas que assim traduzem são sobretudo as católicas. O fato é que o único dia que nas Escrituras tem a designação especial de "Dia do Senhor" é o sábado do sétimo dia: Êxo. 20:11; Isa. 58:13; Eze. 20:12, 20. No Novo Testamento, o dia de que Jesus declarou-Se ser o "Senhor" é o sábado, não o domingo: Mat. 12:8 cf. Luc. 4:16.

Dna Rosa: Mas por que não há nenhuma recomendação quanto à guarda do sábado no Novo Testamento?
Beto: Muito menos para o domingo, como vimos. Mas, de fato, há uma recomendação específica para a guarda do sábado, e feita pelo próprio Cristo, querem ver?

Sr. Oliveira e Dna. Rosa: Nunca percebi isso na Bíblia. . .

Beto: Basta comparar Mateus 23:2 e 3 e Lucas 13:14: "Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles [os líderes judaicos] vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem". O verso 1 diz que Jesus falou tais palavras "às multidões e aos Seus discípulos". Agora, em Lucas 13:14 encontramos os líderes judeus lembrando aos que iam em busca de Jesus para obter cura, que deviam guardar o sábado fielmente. Então, era para "fazer e guardar" o que eles diziam, mas não dentro da visão distorcida deles, que lhes impediam acesso ao alívio de suas enfermidades, pois "é lícito fazer o bem no sábado" (Mateus 12:12).

Sr. Oliveira: É incrível como na Bíblia sempre há alguma coisa nova a se aprender. Eu nunca tinha atentado para esses detalhes. . .

Beto: Mas vou resumir alguns pontos importantes que mostram a continuidade do sábado dentro do Novo Testamento, após a ascensão de Cristo:

É bastante significativo que Lucas, 30 anos depois, relata que as mulheres que preparavam especiarias para o corpo de Cristo "no sábado descansaram, SEGUNDO O MANDAMENTO", em Lucas 23:56. Nada é dito de ser "o velho mandamento", "o sábado da lei ultrapassada" ou coisa que o valha. Assim, para Lucas, três décadas depois da Ressurreição, o sábado do sétimo dia era o dia a ser observado "segundo o mandamento", não o dia ao qual simplesmente chama "primeiro dia da semana".

· Temos a declaração do autor de Hebreus (cap. 4, vs. 9) de que resta um descanso sabático para o povo de Deus (no grego, sabbatismós, em contraste com todas as demais referências a "descanso" no capítulo, para as quais usa o termo katapausín-vs. 3, 4, 5, 8). Esta diferenciação de termos é muito significativa. Sem falar no fato de que o autor bíblico, escrevendo a cristãos hebreus, não ilustra o descanso espiritual que o povo de Deus deixou de obter, ou poderia ainda obter, com o descanso dominical (pelo ano 64 a 70 AD). Se o domingo já fosse uma instituição cristã, o dia de descanso da Igreja, sem dúvida ele faria sua ilustração mencionando o domingo. Contudo, ignora inteiramente este dia, e vale-se do sábado do sétimo dia para ilustrar o seu ponto.

· Encontramos também a preocupação expressa por Cristo sobre os cristãos de Jerusalém que deveriam orar para que a fuga deles, quando da invasão de sua terra (Jerusalém e Judéia) em 70 AD pelas tropas romanas não tivesse que se dar "no inverno, nem no sábado" (Mat. 24:20). Cristo sabia da inconveniência e perigo se os inimigos cercassem a cidade no dia em que estavam na igreja ou dedicados à adoração particular a Deus, alheios ao que se passava fora. . .

· Paulo passou um ano e meio discutindo com os judeus em Corinto, e ao longo de todo esse tempo NUNCA se lembrou de dizer a eles que deviam passar a se reunir no domingo, mesmo quando os judeus abandonaram o local e ele ficou somente com os gentios (Atos 18:1-4 e 11). Em Filipos, onde não havia sinagoga, os apóstolos e Paulo escolheram um lugar tranqüilo para passarem um sábado: Atos 16: 12, 13.

· Também no Concílio de Jerusalém, nenhuma recomendação contra o sábado é determinada entre as regras do que NÃO devia ser imposto sobre os cristãos gentios (Atos 15:20), prova de que não foi objeto de debate naquela igreja--todos o observavam sem problemas e o fato de não haver menção ao sábado é prova de que não era um tema debatido entre os cristãos dos primeiros tempos. Não é dito NADA entre as coisas a serem restringidas aos cristãos gentios quanto ao sábado.

· Os cristãos de origem judaica, eram zelosos pela observância da lei (At. 21:20) e não seriam promotores do abandono de um dos principais preceitos da lei--o 4º. mandamento. Se houvesse alguma iniciativa de que o domingo fosse observado em lugar do sábado, essa seria uma "novidade", um novo princípio de adoração, sobretudo ao substituir uma tradição tão arraigada na cultura nacional e religiosa dos judeus, como o sábado. Sem dúvida qualquer alteração nesse sentido daria margem a comentários, explicações, instruções específicas justificando a alteração. Nada, porém, consta das páginas neotestamentárias a respeito de tal mudança.

Para concluir, lembraria que em Hebreus o autor se demora em explanar em vários capítulos (7 a 10) o significado das cerimônias judaicas e seu cumprimento em Cristo. Quando ele aborda o sábado, porém, não o coloca entre os rituais de Israel, e o tratamento que dá ao tema é muito diverso de sua discussão dos aspectos cerimoniais da lei, o que demonstra que o sábado não é uma "lei cerimonial", como alguns alegam. Mesmo porque se fosse, eu perguntaria--o que representaria como símbolo cerimonial? A explicação que alguns dão é que representa o descanso espiritual da salvação em Cristo. Mas os que obtêm tal descanso não têm, por isso, que excluir o sábado, pois se Israel não tivesse falhado e aceitasse o "repouso" espiritual prometido por Deus (como acentuado em Hebreus 3 e 4), isso não os dispensaria do mandamento do sábado. Portanto, uma coisa não exclui a outra. Prova disso é que houve dentro de Israel os que, de fato, entraram nesse "repouso", e foram fiéis observadores do sábado, como os heróis enumerados no capítulo 11 e Davi, que declarou: "Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está a Tua lei" (Salmo 40:8). A experiência de Davi seria o ideal a ser alcançado por todo o povo israelita.

Sr. Oliveira: Eu ouvi dizer que os adventistas têm um pesquisador muito detalhista e erudito que estudou dentro do Vaticano e de lá trouxe muitos documentos que provariam a mudança do sábado para o domingo por influência do paganismo, e que ele até ganhou uma medalha do Papa pela boa qualidade de sua pesquisa, e teve até um livro publicado pela universidade jesuíta com o Imprimatur da Igreja Católica. Mas isso tudo parece tão despropositado. Como é essa história? Afinal, os adventistas não criticam tão duramente a Igreja Católica? Como um autor adventista conseguiu essa façanha, desafiou as doutrinas católicas dentro do próprio Vaticano e ainda é premiado por isso?! São coisas que não parecem fazer qualquer sentido. . .

Beto (rindo): Aliás não foi só um, mas dois livros dele foram publicados pela editora da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, fundada há mais de 450 anos por Santo Inácio de Loyola, fundador da ordem dos jesuítas, e ambos com o Imprimatur da Igreja Católica.

Sr. Oliveira: Pois é, mas como ele conseguiu isso?

Beto: Primeiramente, deixem-me expor rapidamente a tese básica do livro: Provas históricas foram levantadas comprovando que os cristãos originários de Jerusalém, ao fugirem da condenada cidade antes que as tropas do general romano Tito a invadissem em 70 AD, instalaram-se em Pela, ao norte, onde formaram a colônia dos então chamado "nazarenos". E o historiador palestino Epifânio registra que esses nazarenos tinham, entre seus costumes, o de observarem o sábado até ao seu tempo, no 4o. século.

Alguém no Fórum Evangelho citou um livro que dizia que os cristãos primitivos observavam tanto o sábado quanto o domingo. Isso ocorreu, de fato, por um tempo, mas não em todos os lugares. Houve conflito de idéias, sobretudo nas igrejas orientais, quando a liderança da Igreja em Roma buscou adotar o dia festivo dos pagãos romanos, o dies solis, para se distanciarem mais e mais dos judeus, tão odiados pelos romanos. Nos primeiros tempos os cristãos eram vistos como uma mera "seita judaica", e os líderes cristãos não queriam sofrer as perseguições que o Imperador Adriano impunha à comunidade judaica, sobretudo em 135 AD, após a famosa Revolta de Barcocheba dos judeus para livrarem-se do jugo romano, proibindo a prática de sua religião e a observância do seu sábado. Não só isso, mas queriam mesmo ganhar as simpatias das autoridades de Roma, como mais tarde se confirmou com Constantino e sua suposta "conversão" ao cristianismo, prestando aos líderes de uma igreja já apostatada os maiores favores, inclusive um "decreto dominical" [falando do descanso geral no venerabili dies solis--venerável dia do sol] em 7 de março de 321 AD para facilitar o culto cristão.

Assim, a primeira medida da liderança cristã em Roma foi abandonar a celebração da Páscoa na mesma data dos judeus (14 de Nisã, do calendário judaico) para adotar o "domingo de Páscoa". Mas os cristãos orientais não aceitaram isso, pelo que foram excomungados pelo bispo Vítor, e ainda hoje os Ortodoxos têm sua comemoração da Páscoa diferenciada dos católicos. A razão disso é exatamente esse impasse que passou a chamar-se "Controvérsia Quatrodecimana".

A adoção do "domingo de Páscoa" foi o começo de outras medidas pelas quais os líderes de uma igreja já apostatada (a essas alturas já tinham cumprido as profecias de Paulo em Atos 20:29, 30 e 2 Tess. 2:7) buscavam ser "politicamente corretos", conquanto doutrinariamente incorretos. E a adoção da observância do mesmo dia festival de Roma, favorecido certamente por seus imperadores, veio a calhar. Daí que um dos argumentos então levantados era de que Jesus era o "Sol da justiça". Então, o "dia do sol" aplicava-se como uma luva ao Cristo, numa nítida aplicação de uma prática pagã ao ritual cristão. Também usava-se a ilustração de que sendo que no 1o. dia da criação apareceu a luz, Cristo sendo a luz do mundo e tendo ressuscitado no 1o. dia, transferiu o dia de observância do sábado para o domingo, o primeiro dia da semana. Isso se repetiu muitas vezes depois, como se deu com o próprio dia feriado pagão do nascimento do Sol Invicto, 25 de dezembro, que passou a servir à celebração do nascimento do "Sol da Justiça", o Natal. É o chamado "sincretismo religioso", prática tão evidente nos ritos da Umbanda, com elementos do paganismo africano e indígena e do catolicismo convivendo em perfeita harmonia.

Pois bem, agora, como o Dr. Samuele Bacchiocchi conseguiu expor tudo isso a partir de seu período de estudos doutorais na principal instituição educacional católica? Após o Concílio Vaticano II a Igreja Católica estendeu o convite para eruditos de qualquer denominação seguirem um programa doutoral na sua famosa instituição educacional. Ora, nenhum erudito batista, ou metodista, ou presbiteriano, ou assembleiano pensou em tirar proveito da oferta. Um adventista o fez, o Dr. Samuele Bacchiocchi, que é italiano.

Ninguém fez pesquisa melhor, mais completa, mais realista sobre o tema das origens do domingo dentro do próprio ambiente de documentação indesmentível e inédita da biblioteca vaticana. Vale a pena conhecer os resultados de sua pesquisa, que fez com que até merecesse uma medalha de ouro da parte do Papa Paulo VI pela qualidade de seu trabalho acadêmico. Trata-se da medalha que todos os alunos que se destacam recebem. Bacchiocchi conseguiu a distinção de máximo louvor acadêmico, summa cum laude, e por isso fez jus à medalha papal, mesmo que provando o erro da Igreja Católica em adotar a guarda do domingo, em lugar do sábado do sétimo dia, costume seguido pela maioria da igrejas protestantes, infelizmente.

Por que um erudito adventista do sétimo dia foi enfiar-se por cinco anos dentro da mais importante universidade católica do mundo? Só há uma explicação: o anseio pela verdade e uma porta que Deus lhe abriu para isso. À semelhança de Mardoqueu, José no Egito, Daniel, Neemias e tantos outros heróis bíblicos que atuaram dentro do sistema do erro para fazer refulgir a verdade e defender os melhores interesses do povo de Deus, Bacchiocchi, o primeiro e único não-católico a valer-se do privilégio, demonstra pela Bíblia e pela história o fato bíblico de que o sábado do sétimo dia é o "dia do Senhor" e não há outro.

Sr. Oliveira: Gostaria de ler esse livro.

Beto: Eu lhe arranjarei um exemplar com prazer. Saiba que esse livro foi grandemente elogiado por eruditos tanto protestantes quanto católicos pela metodologia verdadeiramente científica empregada em sua pesquisa, e depois de sua publicação foi organizado um simpósio erudito produzido por sete estudiosos britânicos e americanos intitulado From Sabbath to the Lord’s Day [Do Sábado Para o Dia do Senhor]. A pesquisa foi patrocinada pela Tyndale Fellowship for Biblical Research, de Cambridge, Inglaterra, e foi publicada pela editora Zondervan. Vários dos participantes solicitaram exemplares da dissertação do Dr. Bacchiocchi e após lerem sua pesquisa informaram-no por carta que haviam mudado o seu modo de pensar sobre certas questões e teriam que reescrever seções de seus capítulos.

É significativo que esses eruditos protestantes que contribuíram para o simpósio From Sabbath to the Lord’s Day, remontem a origem do domingo, não à ressurreição/aparecimentos de Cristo, mas ao período pós-apostólico. Por exemplo, o Prof. Max B. Turner escreve: "Temos de concluir que é difícil imaginar que a observância do dia de repouso no primeiro dia da semana começou antes do Concílio de Jerusalém (em 49 AD). Nem podemos nos deter aí; devemos seguir adiante para manter que a observância do dia de repouso no primeiro dia não pode ser entendida como um fenômeno da era apostólica ou da autoridade apostólica em absoluto" (pp. 135-136).

Sr. Oliveira: Muito bem, pretendo ler esse livro e depois lhe dou um "feedback".


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Diálogo de Um Adventista Com Membros de Outra Igreja Evangélica--A Nossa Versão-IV

[Beto visita novamente os Oliveiras uma semana depois de seu último contato, quando lhe entregou o livro do Dr. Bacchiocchi Do Sábado Para o Domingo.]

Beto: Então, meu caro irmão, conseguiu completar a leitura do livro?

Sr. Oliveira: Ainda não, pois tenho andado muito ocupado ultimamente, mas já o li em boa parte. Estou achando muito informativo e revelador. Mas gostaria de analisar com você uma passagem que sempre vejo sendo empregada pelos que contestam os observadores do sábado: Colossenses 2:16. Não diz a passagem claramente que o sábado não vale mais, tendo sido abolido por ser cerimonial?

Dna Rosa: Deixe-me ler o texto com o contexto incluído:

"Tendo cancelado o escrito de dívidas que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz. Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das cousas que haviam de vir; mporém o corpo é de Cristo".

Então, sendo que o "escrito de dívidas" foi removido, e abaixo inclui o sábado, não indica isso a abolição desse mandamento, por ser cerimonial?

Beto: Se o sábado é cerimonial, qual é o sentido dele nesse aspecto? As cerimônias todas apontavam para algo relativo à expiação de Cristo. Mas já vimos que o sábado recebe um tratamento especial na epístola aos Hebreus, e não aparece lá dentro dos capítulos 7 a 10, que são os que tratam especificamente do sentido das cerimônias, dos sangues de bodes e carneiros, etc. Pelo contrário, o sábado é mencionado nos capítulos 3 e 4 e tem tratamento muito especial: é usado como símbolo do repouso espiritual que se obtêm em Cristo. Mas quem obtém tal repouso não dispensa por isso o sábado, como foi o caso de Davi, que declarou: "Agrada-me fazer a Tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está a Tua lei". Esta experiência de Davi seria a que idealmente toda a nação de Israel deveria ter experimentado para entrar no "repouso" divino. E nem por ter conhecido tal "repouso" Davi deixou de observar o sábado.

Dna Rosa: Mas por que nesta passagem de Colossenses que li é dito que fazia parte do escrito de dívidas que foi eliminado na cruz?

Beto: Esse "escrito de dívidas" não é a lei cerimonial, como muitos pensam pois estudos teológicos mais recentes demonstram que se trata do registro dos pecados contra nós, uma vez que a lei cerimonial não era CONTRA o povo de Israel, e sim a favor, para instruí-los quanto ao Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Como diz o Dr. Bacchiocchi com toda razão, "a eliminação de lei moral ou cerimonial dificilmente propiciaria aos cristãos divina garantia de perdão. A culpa não é removida pela destruição de códigos de lei". De fato, esta última condição deixaria a humanidade sem princípios morais, prossegue ele. "O que foi pregado na cruz não foi a "lei-nomos", mas o cheirographon, ou seja, o escrito de dívida, um termo que ocorre somente em Colossenses 2:14. Seu significado tem sido esclarecido por sua ocorrência em literatura apocalíptica onde a palvra grega cheirographon é utilizada no sentido de "livro de registro de pecado" ou certificado de débito pelo pecado, mas não a lei moral ou cerimonial.

O Dr. Bacchiocchi explica que Paulo, numa ousada metáfora, afirma que mediante Cristo Deus "cancelou", "pôs de lado", "pregou na cruz" "o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial". A base legal do registro de pecados eram as ordenanças, mas o que Deus destruiu na cruz não era a base legal (lei) para nosso envolvimento no pecado, mas o registro escrito de nossos pecados. Os que interpretam o escrito de dívidas "que era contra nós" como o velho concerto têm certamente dificuldade em explicar como Deus estabeleceria um concerto contrário ao Seu povo. O que era contra nós seria o pecado, constante desse registro de dívidas, não a lei do Senhor "que é perfeita". Os versos imediatamente anteriores a esta passagem confirmam isto. Assim, o documento pregado na cruz, segundo o contexto imediato da passagem, não é a lei em geral, nem o sábado em particular, mas o registro de nossos pecados.

Sr. Oliveira: Mas esta passagem no seu todo trata do sábado semanal, pelo que tudo indica, e diz que não deve mais ser observado.

Beto: Veja que não é bem isso que o texto diz. Não fala que não é para observar mais, e sim que ninguém julgue alguém por causa da observância do sábado. O problema com esta passagem é que Paulo está tratando aí de um problema específico entre os colossenses, uma heresia colossense da qual não se tem muita informação. Veja no contexto imediato como ele ainda prossegue recomendando: "Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem motivo algum na sua mente carnal. . ." (vs. 18). Que filosofia estranha é essa que cultuava até anjos? Quais eram os seus ensinos e práticas? Não se sabe muito bem. Apenas que eram radicais, pois nos vs. 20 e 21 lemos que Paulo ainda fala deles como os que determinam--"não manuseies isto, não proves aquilo, não toques naquilo outro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens". Então, esse pessoal criava normas alheias às Escrituras. Parecem-se até com os fariseus condenados por Cristo por acrescentarem à lei, práticas que não tinham respaldo bíblico.

Agora, temos que ver um fato importante. Os que usam esta passagem como condenando a guarda do sábado dedicam-se à tarefa de destruir um princípio bíblico derivado da Criação, mas nada de melhor apresentam no lugar. É incrível imaginar que o apóstolo Paulo iria de repente insurgir-se contra um princípio estabelecido por Deus para o melhor bem do homem assim, sem mais nem menos, pois Jesus declarou que "o sábado foi feito por causa do homem" (Marcos 2:27). E demonstramos antes que Ele se referia ao homem-anthropós, toda a raça humana, não ao "homem judaico", o que não faz o mínimo sentido. Lembre-se que a noção das origens edênicas do sábado não é uma posição exclusiva dos cristãos observadores do sábado, mas de muitos dos mais gabaritados autores cristãos do passado e do presente, e dos mais representativos documentos confessionais históricos da cristandade protestante. E ultimamente até da Igreja Católica, com a proclamação do documento Dies Domini pelo Papa João Paulo II. Afinal de contas, quem usa Colossenses 2:16 para ensinar o fim do sábado, está com isso ensinando também O FIM DO DOMINGO! Ou seja, o princípio de um dia de observância ainda válido para os cristãos.

Dna Rosa: Mas, afinal, os sabatistas dizem que esses sábados são os cerimoniais, outros insistem que são os sábados semanais. Qual é o certo?

Beto: Na verdade, não são somente os sabatistas que ensinam que esses sábados são cerimoniais. Muitos importantes teólogos protestantes dizem a mesma coisa. Veja alguns exemplos que consta deste livro:

O Pastor Myer Pearlman, da Assembléia de Deus, refere-se a esta questão, quando escreve:

"A sua relação com a lei cerimonial (vers. 15,16). As festas, os dias santos e outras observâncias cerimoniais judaicas não passam de símbolos e figuras representando Cristo. Agora, desde que Cristo cumpriu os símbolos, os mesmos tornam-se desnecessários".--Através da Bíblia, pág. 293.

Da obra Comentario Exegético y Explicativo de la Biblia, (em espanhol) Tomo 2, pág. 520, de autoria de Roberto Jamieson, A R. Fausset e David Brown, comentando Colossenses 2:16:

"‘SÁBADOS’ do dia da expiação e da festa dos tabernáculos chegaram a seu fim com os serviços judaicos aos quais pertenciam (Levítico 23:32, 37-39). O sábado semanal se apóia em uma base mais permanente, havendo sido instituído no Éden para comemorar a terminação da criação em seis dias. Levítico 23:38 expressamente distingue entre ‘o sábado de Jeová’ e outros sábados." (grifos nossos)


E temos mais um pesquisador insuspeito, por ser observador do domingo, que esclarece:


"Apela-se a passagens tais como Colossenses 2:16: ‘Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados". E Romanos 14:5: ‘Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente". Cada um de nós, contudo, sabe que as igrejas apostólicas viviam grandemente atribuladas pelos judaizantes, os quais insistiam em que a lei mosaica continuava em vigor, e que os cristãos eram obrigados a conformar-se às suas prescrições acerca da distinção entre alimentos limpos e impuros, bem como a seus numerosos dias de festa, nos quais todo trabalho tinha de ser interrrompido.

Esses eram os falso mestres e essa era a falsa doutrina contra a qual muitas das epístolas de Paulo se dirigiam. É uma óbvia referência a tais homens e suas doutrinas que passagens como as supracitadas foram escritas. Elas não fazem nenhuma referência ao sábado semanal, o qual fora observado desde a criação, e o qual os próprios Apóstolos introduziram e perpetuaram na Igreja Cristã."--Teologia Sistemática, Charles Hodge, pág. 1269

O Dr. Albert Barnes, conhecida autoridades presbiteriana, assim se expressou sobre o texto de Colossenses 2:16:


"‘Ou dos sábados’. A palavra ‘sábado’, no Velho Testamento, é aplicada não somente ao sétimo dia, mas a todos os outros dias de repouso sagrado que eram observados pelos hebreus, e particularmente ao começo e encerramento de suas grandes festividades. Há, certamente, referência a esses dias nesse lugar, visto que a palavra é usada no plural e o apóstolo não se refere particularmente ao assim chamado sábado, propriamente.

"Não há nada que indique tivesse ele ensinado não haver nenhuma obrigação de observar qualquer dia santificado, pois não há a menor razão para crer que ele tencionasse ensinar que um dos Dez Mandamentos tivesse deixado de ser obrigatório para a humanidade. . . .

"De nenhuma parte da lei moral -- pode-se dizer ser ‘uma sombra das coisas futuras.’ Estes mandamentos são, em virtude da natureza da lei moral, de perpétua e universal obrigatoriedade".--Notes on Colossians, edição de 1850, págs. 306 e 307.

Adam Clarke, famoso comentarista bíblico metodista declara:

"‘Ninguém vos julgue pelo comer ou beber’ . . . O apóstolo aqui se refere a algumas particularidades do escrito de ordenanças, que foram abolidas, a saber, a distinção de carnes e bebidas . . . e a necessidade da observância de certos feriados e festivais, tais como as Luas novas e sábados particulares ou aqueles que deviam ser observados com incomum solenidade; todos eles foram abolidos e cravos na cruz, e não mais eram de obrigação". (Clarke’s Commentary).


Para maior clareza sobre o que ele pensava do sábado, que tal recorrer ao seu comentário noutro ponto? Vejamos como comentou a lei dos Dez Mandamentos em Êxodo 20: "É digno de nota que nenhum destes mandamentos, OU PARTE DELES, pode . . . ser considerado cerimonial. Todos são morais e, conseqüentemente, de eterna obrigação". (Clarke’s Commentary, Vol. 1, (sobre Êxo. 20).

O autor English E. Schuyler em Studies in the Epistle to the Colossians até diz:


"Note-se que Paulo não declara: 'Que nenhum homem observe qualquer restrição'--em absoluto. Ele diz: 'Ninguém vos julgue. . .' O que ele está ensinando é que ritual e cerimônia não têm qualquer parte em nossa salvação, está tudo em Cristo. Temos liberdade no Senhor, mas essa liberdade somente nos torna mais cuidadosos a fim de não levarmos um irmão mais fraco a tropeçar. Não deve haver temor de que sob essa nova provisão haverá um padrão inferior de santidade--não, pois aquele que deseja revelar a Cristo em sua vida levará uma existência de maior santidade e aceitação do que o que está se empenhado em apegar-se a ritual e cerimônia. . . . Resta a cada um julgar se está caminhando em obediência à lei da liberdade em Cristo, submetendo-se inteiramente Àquele a Quem pertence (pág. 80)"


Schuyler mais adiante declara que os cristãos primitivos observavam o sábado juntamente com os judeus, até mais tarde se desvincularem das influências (e presença) judaica para adotar o domingo em homenagem à Ressurreição.
O ponto principal é que todos esses autores percebem o dilema de desfazer o princípio do sábado, ou dia de repouso, levando Paulo a anular o que Cristo declarou sobre ter sido feito "por causa do homem". Isso afetaria o próprio domingo, pois se o dia de repouso era mero cerimonial, sombra de Cristo, então com o findar de toda a "cédula de ordenanças" iria de embrulho esse princípio de dedicar ao Senhor todo um dia de adoração. Esta certamente é a mesma preocupação de Albert Barnes, Adam Clarke e os demais todos que adotam esta visão de que "os sábados" em Col. 2:16 seriam os cerimoniais, do contrário estariam destruindo algo que serve de base para a própria observância dominical, pois Paulo nada fala sobre substituição de um dia por outro.

Sr. Oliveira: Bem, mas o que me diz do próprio Dr. Bacchiocchi, que entende ser esse sábado de Colossenses 2:16 semanal, e não cerimonial?

Beto: É verdade, o Dr. Samuele Bacchiocchi discute este texto de Col. 2:16 numa interpretação diferenciada, o que vem trazer maior luz para esclarecer, não para confundir. No meio evangélico isso ocorre de monte. Há, por exemplo, três interpretações diferentes entre os evangélicos para a passagem de Mateus 16:18, "Tu és Pedro, sobre esta pedra edificarei Minha igreja". Alguns teólogos dizem que esta "pedra" seria a confissão de Pedro da messianidade de Cristo. Assim, Cristo estaria gesticulando e apontando para Pedro ("tu és Pedro"), depois apontando para Si ("sobre esta pedra. . ."). Outra interpretação é de contrastar os termos gregos petros e petra para assinalar que Cristo usa a expressão que se refere a uma rocha firme e grande, com o outro termo que é apenas referência a um seixo. Mas essa interpretação também apresenta dificuldades, pois Cristo falava em aramaico (onde tal distinção não existe), e não em grego.

Finalmente, temos a interpretação de que Pedro é de fato a pedra, no sentido de ser ele o primeiro dos apóstolos sobre os quais a Igreja seria edificada. Cristo estaria prestando-lhe uma homenagem por ter sido o primeiro a fazer confissão da Sua messianidade, mas depois Paulo esclarece em Efés. 2:20 que a Igreja foi edificada sobre o fundamento dos profetas e apóstolos, dentre os quais estava Pedro, não exclusivamente sobre ele. Creio que esta explicação é a melhor das três.

Então, já vimos que a interpretação "tradicional" de Colossenses 2:16-17, não é só dos adventistas. Adam Clarke, Jamieson, Fausset and Brown, Albert Barnes, Charles Hodge e outros eruditos evangélicos entendiam que o texto não se refere ao sábado semanal, e sim aos cerimoniais.

Então, a interpretação clássica de Col. 2:16, 17, segundo teólogos adventistas e outros, não está fora de propósito quando se percebe que o princípio do sábado é uma sombra da salvação em Cristo. Paulo não diz para não guardá-lo, apenas para que ninguém julgasse o seu semelhante pela forma de observá-lo, sem as restrições dos hereges colossenses.

É importante observar, como faz Bacchiocchi em toda a discussão do problema, em parte nenhuma da epístola aos Colossenses há qualquer menção da lei. O tema não é a vigência ou não da lei, ou do sábado, mas os problemas acarretados pelos heréticos colossenses que tinham uma concepção errônea do modo de observância das festas de Israel, alimentos, etc. É mais ou menos o que ocorria quando Cristo debatia com os fariseus e saduceus, o que alguns "teólogos" não entendem e fazem uma confusão incrível também.

Alguns imaginam que ele está tratando de leis cerimoniais porque circuncisão e incircuncisão são de fato mencionados no contexto imediato (vv.11-13), mas isso ocorre metaforicamente, para ilustrar a obra de Cristo na vida dos colossenses, e não literalmente para negar a validade da lei.

A discussão não diz respeito à lei em geral, ou à circuncisão em particular, mas trata do que Cristo realizou pelos crentes ao perdoar e purificar os seus pecados. Para ilustrar a extensão do perdão de Deus, Paulo emprega duas metáforas. Primeiro, a metáfora da circuncisão e depois a do livro de registro dos pecados. Mediante a metáfora da circuncisão ele ilustra a experiência de "despojamento do corpo da carne" por ser sepultado com Cristo no batismo, e com Ele ressuscitado para uma nova vida (vs. 11, 12).

Ele menciona também a "incircuncisão" como uma metáfora de sua prévia condição pecaminosa, ou seja, "mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne" (vs. 13). Esse uso alegórico da circuncisão/incircuncisão pode parecer para alguns como referente à lei de Moisés, mas se há algo na metáfora a ser condenado, não é a circuncisão, e sim a incircuncisão.

O que muitos perdem de vista é a ligação íntima entre os vs. 13 e 14. Observe-se que o vs. 13 encerra com a afirmação de perdão de "todos os vossos delitos". O vs. 14 é construído sobre o 13 com a explicação e expansão da medida do perdão divino. O verso se inicia com o aoristo particípio exaleithas-"tendo cancelado," que objetiva dizer-nos o que significa o perdão de Cristo de nossos pecados. Isso Cristo executou pregando na cruz, não um código de leis, mas o cheirographon, esse relatório de débito devido ao pecado, então desfeito pelo perdão, não pela abolição da lei.

Sr. Oliveira: Mas por que Paulo fala desses sábados como "sombras de coisas futuras"?

Beto: O erudito adventista mostra ainda que o argumento de que a referência de Paulo a "dias de festa", "luas novas" e "sábados" (2:16), que são "sombra das coisas que haviam de vir" (vs. 17) . . . não indica que Paulo está discutindo a lei de Moisés pregada na cruz. Paulo não está falando nada contra as observâncias dessas práticas, e sim contra quem quer que passe julgamento sobre o comer, beber e observar os tempos sagrados.

Deve-se notar o fato de que o juiz que passa julgamento não é Paulo, mas os falsos mestres colossenses que impõem "ordenanças" (2:20) sobre como observar essas práticas a fim de se atingir "rigor ascético". No verso 22 ele fala que tais ordenanças são "preceitos e doutrinas dos homens" que "com o uso se destroem". Portanto, dificilmente ele iria referir-se às leis dadas por intermédio de Moisés como "doutrinas dos homens".

Ele cita um erudito evangélico, Prof. De Lacey, que corretamente comenta sobre Col. 2:16: "o juiz provavelmente seria um homem de tendências ascéticas que objeta ao comer e beber dos colossenses. O modo mais natural de entender-se o restante da passagem não é que ele também imponha um ritual de dias festivos, mas que faz objeção a certos elementos de tal observância" (p. 182). Presumivelmente o "juiz" desejava que a comunidade observasse essas práticas numa forma mais ascética ("rigor ascético"--2:23, 21), ou, para deixar em termos mais claros: menos festa e mais jejum.

Por advertir contra o direito dos falsos mestes "passarem julgamento" sobre como observar os festivais, Paulo está desafiando não a validade dos festivais como tais, mas a autoridades dos falsos mestres de "julgar", ou seja, legislar a respeito da modalidade de suas mencionadas práticas, que incluem a guarda do sábado. Para expressar doutro modo, o que Paulo está condenando não são as práticas em si, mas a perversão promovidas pelos falsos mestres. Isso vem ao encontro da citação que fizemos de English E. Schuyler.

Finalmente, a questão das "sombra" é assim discutido por Bacchiocchi: Col 2:17 declara que "tudo isso tem sido sombra das cousas que haviam de vir, porém o corpo é de Cristo". Isto tem sido interpretado à luz de Heb 8:5 e 10:1 numa conclusão de que em ambos os casos a referência é à lei de Moises. Esta interpretação, contudo, ignora os respectivos contextos de ditas passagens. Em Hebreus o termo "sombra-skia" é empregado para estabelecer uma correspondência vertical entre o santuário celeste e o terrestre, sendo o terestre uma "sombra" ou "tipo" do celeste. Em Col. 2:17, contudo, o que antecede a "sombra" não parece absolutamente claro. O texto declara "tudo isso tem sido sombra das cousas que haviam de vir, porém o corpo é de Cristo" (Col 2:17). A que o pronome relativo "tudo isso" (ha em grego) se refere? Acaso faz referência às cinco práticas mencionadas no verso anterior, ou às "ordenanças (dogmata) concernentes a essas práticas promovidas pelos falsos mestres?
Observe, primeiramente, que no vs. 16 Paulo não está advertindo contra os méritos ou deméritos da lei mosaica concernente a alimentos e festivais, mas contra as "ordenanças" a respeito dessas práticas, advogadas pelos falsos mestres. Destarte, é mais plausível admitir que as "ordenanças", antes que as práticas mesmas, sejam o que antecede "tudo isso".

Em segundo lugar, nos versos que se seguem imediatamente, Paulo prossegue sua advertência contra os ensinos enganosos, declarando, por exemplo, "Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade. . ." (2:18). "Por que . . . vos sujeitais a ordenanças: Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro" (2:20-21)?

Uma vez que o que precede e o que se segue a esse pronome relativo "isto tudo" trata com as "ordenanças" da filosofia colossense, concluímos que é o último item que Paulo descreve como "sombra das coisas que haviam de vir" (2:17).

Presumivelmente, os proponentes da "filosofia" colossense mantinham que suas "ordenanças" representavam uma cópia que capacitasse o crente a ter acesso à realidade ("plenitude"). Em tal caso, Paulo está fazendo o argumento deles voltar contra eles ao declarar que suas ordenanças "têm sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo" (2:17). Ao dar ênfase ao fato de que Cristo é o "corpo" e "cabeça" (2:17, 19), Paulo indica que qualquer "sombra" lançada pelas ordenanças não tem valor significativo.

Conclui-se que o que Paulo designa como "sombra" não é a lei mosaica ou o sábado, mas os ensinos enganosos da "filosofia" colossense que promovia práticas dietéticas e observância de tempos sagrados como meios auxiliares para a salvação. Então, parece que há duas "palavras-chave" nessa discussão: a) o sentido de cheirographon-escrito de dívidas, e b) de "sombra". Sobre o primeiro termo, já discuti o suficiente para demonstrar que o sentido não é nenhum código de leis, pois estas não são CONTRA os filhos de Deus, mas os pecados registrados no escrito de dívidas. Aí, sim, faz sentido ser CONTRA nós.

Deve-se notar que o verbo no original grego está no tempo presente--"são (estin) sombra", NÃO no passado. Muitos evangélicos alteram o verbo para o passado como sendo "eram sombras", ou, como consta de certas versões bíblicas, "têm sido sombra", a fim de apoiarem sua alegação de que sua função havia cessado inteiramente com a vinda de Cristo. Todavia, esse verbo no tempo presente significa que, refira-se o "tudo isso" às cinco práticas mencionadas no verso anterior ou às "ordenanças" concernentes a essas práticas promovidas pelos falsos mestres, Paulo não está pondo em disputa sua legitimidade, mas situando-as em sua apropriada perspectiva com Cristo, por meio do contraste "sombra-realidade".

Dna Rosa: Essa é uma questão que parece bem complexa. Será que não há uma forma mais fácil de entender isso tudo?

Beto: O problema quanto a esta passagem é a dogmatização de alguns, a teimosia irracional em torno de uma palavra, desconsiderando o contexto imediato e global. Paulo tem um estilo de repetir dinamicamente palavras dando-lhes sentidos variados. Ele, por exemplo, fala na "loucura de Deus", e também "sabedoria de Deus (1 Cor. caps. 1 e 2) ou discute o tema da lei e da graça em Romanos 7, onde a utiliza a palavra "lei" variadamente como "lei da minha mente", "lei do Espírito de vida", "lei do pecado e da morte", "lei santa, justa, boa, prazerosa", "lei de Deus", "lei de Cristo". Ele fala em ser "livre" mas também confessa-se "escravo da lei de Deus", fala sobre "debaixo da lei" numa variedade de sentidos (cf. 1 Cor. 9:21; Rom. 6:14; Gál. 5:16-21).

Então, nada impede que o uso do termo "sombra" nesse contexto não tenha a conotação que se imagina, de um tipo a ser suplantado pelo antitipo. O contraste é entre algo irreal, ou sem sentido concreto, uma sombra, e algo real, o corpo de Cristo.

Portanto, longe de negar a validade do mandamento do sábado ao discutir Colossenses 2:16, o seu estudo devido, levando-se em conta a contextuação próxima e mais ampla, confirma a validade do mandamento. O Dr. Bacchiocchi revela como eruditos evangélicos apóiam o seu ponto de vista e faz um levantamento histórico da problemática enfrentada pelos colossenses numa discussão de um tema reconhecidamente difícil, pois não há muita informação sobre essa heresia colossense. Então, se não é fácil entender o que está sendo discutido em todos os seus pormenores, o que se diga de um lado ou de outro carrega muitos elementos de especulação.
De qualquer modo, a estas alturas creio que alguns fatos ficaram bem claros:


* Jesus declarou não ter vindo para abolir a lei, e sim cumpri-la, ou expor o seu verdadeiro sentido (Mateus 5:17-18), com todo o contexto desta passagem--que está no início de seu Sermão da Montanha--nada revelando que apresente alguma nova lei. Pelo contrário, Ele exalta e destaca o sentido espiritual e mais profundo da lei conhecida pelos Seus ouvintes (caps. 5 a 7). Assim, não faz sentido entender Col. 2:14-17 como negando essas palavras de Cristo indicando a abolição do "código legal" divino.

* Se o sábado é sombra de Cristo, em que sentido seria essa sombra? Já vimos que a salvação em Cristo--o encontrar "repouso" Nele--não exclui a guarda do sábado pois não é esta a lição que extraímos de um estudo de Hebreus 4. Se Israel houvesse entrado no "repouso" da salvação, isso não excluiria a observância do sábado, como os que em Israel o lograram (os heróis de Hebreus 11) e nem por isso deixaram de observá-lo (ver o exemplo de Davi, Salmo 40:8).

* A interpretação de fim do sábado em Col. 2:17 também compromete os fundamentos do domingo. Então, não é coerente dar tal interpretação e defender a observância de qualquer dia de repouso, pois, no caso, se Paulo está ensinando o fim do sábado, ele está eliminando o princípio de um dia dedicado a Deus, o que contraria todo o restante do que a Bíblia ensina (ver o exemplo de João, Apoc. 1:10).

* As históricas Confissões de Fé das igrejas cristãs protestantes de tempos bem posteriores ao período da Reforma, bem como grandes próceres, autores, instrutores e até compositores de hinos ligados às igrejas regidas por tais Confissões de Fé, ensinam a validade e vigência do Decálogo como regra de fé e de seu 4o. mandamento como necessário de se observar, dedicando integralmente a Deus um dia de 24 horas. Portanto, tais confissões e autoridades negam a interpretação semi-antinomista de Col. 2:14-17.


Alguns tratam de explorar essa interpretação diferenciada de Bacchiocchi e até "festejar" infantilmente o fato de que os adventistas historicamente têm outra interpretação (aliás, compatível com a de Adam Clarke, Albert Barnes, Jamieson, Fausset & Brown, como vimos). A honestidade e demonstração de verdadeiro espírito de pesquisa profunda devia levar os que assim agem a refazer imediatamente toda e qualquer alusão parcial ao trabalho de Bacchiocchi em sua discussão de Col. 2:14-17 evitando passar uma imagem distorcida de seu pensamento. Caso não o façam, estão apenas agindo exatamente como os falsos ensinadores da Torre de Vigia que costumam citar autoridades e eruditos apenas parcialmente, eliminando o contexto de suas palavras segundo se ajustem a seus pressupostos e interesses.

Sr. Oliveira: Bem, esta passagem de Colossenses 2:16 é ligada a Romanos 14:5 e 6 e Gálatas 4: 9 e 10 por muitos como indicando que não há mais um dia de observância obrigatória para os cristãos. Mas reconheço que essa não é a posição de minha própria Igreja Batista, pois no próprio site da Convenção Batista Brasileira indica haver o "Dia do Senhor", que aplicam ao domingo, e os demais documentos confessionais das igrejas ensinam a mesma coisa.

Beto: Exatamente. Já vimos algo sobre Romanos 14:5, 6, agora temos Gálatas 4:9, 10. Apenas lembraria que há uma diferença notável entre o tratamento do problema dos "dias" em Romanos e Gálatas, o que muitos passam totalmente por alto. Em Romanos Paulo admite que "tanto faz um dia como outro" e não proíbe a observância radicalmente como ocorre em Gálatas. Por que será? Resposta: em Romanos ele se refere aos dias ainda significativos do calendário judaico que alguns queriam exigir aos cristãos como práticas obrigatórias (os dias feriados religiosos que tinham cunho de feriados nacionais para os judeus). Paulo não os considerou obrigatórios mas respeitava os escrúpulos dos judeus quanto a tais dias, bem como, possivelmente, também dias de jejum que eram muito importantes nos usos e costumos judaicos. Deve-se levar em conta que os primeiros conversos ao cristianismo eram de origem judaica e "zelosos da lei" (Atos 21:20).

Já em Gálatas ele condena inteiramente o apego a "dias, e meses, e tempos e anos" porque estava tratando sobre festas do calendário pagão, que alguns conversos do paganismo ainda queriam manter. Uma situação, portanto, bem diversa que merece ser levada em conta.

Que não se tratava do sábado é óbvio, pois se Paulo tivesse se manifestado contra o sábado em qualquer sentido, não poderia ter dito em sua defesa de acusações dos líderes judeus: "Nenhum pecado cometi contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César" (Atos 25:8). Também na agitação dos judaizantes, a decisão do Concílio de Jerusalém em Atos 15:20 é significativa: não consta nada CONTRA a guarda do sábado, simplesmente porque não houve agitação de tal assunto. Todos o observavam normalmente, como documentos históricos posteriores demonstram.

Dna Rosa: E essa questão de "comer ou beber"? Não está se referindo às regras de proibição de alimentos, como a carne de porco?

Beto: A respeito das leis alimentares, supostamente abolidas também na cruz, num debate sobre o tema num fórum evangélico perguntei o que simbolizaria a proibição de comer porco ou rato em relação à cruz de Cristo, e um participante apresentou uma explicação realmente incrível: os alimentos imundos seriam símbolos dos gentios, pois na visão do lençol em Atos 10 tal foi o sentido transmitido a Pedro. Só que nesse caso Deus teria criado uma lei para fomentar o preconceito racial! Que estranha atitude de um Deus que "não faz acepção de pessoas". . .
É claro que não há nada de prefigurativo nem ritual nas leis higiênicas, criadas para o bem-estar e melhor saúde dos filhos de Deus que são "templos do Espírito Santo", simplesmente isso. Certamente essas leis estão incluídas naquelas "minhas leis" que Deus escreve nos corações e mentes dos que aceitam os termos de Seu novo concerto (Novo Testamento), como se acha naquele tremendo texto de Hebreus 8:6-10 e 10:16, o golpe de morte contra as idéias semi-antinomistas, no que contrariam o pensamento de gente muito competente do passado e do presente, autores de magníficos documentos de confissão de fé e prática cristã, e comentaristas posteriores acentuando tais princípios que reafirmam a validade do Decálogo divino como regra de conduta cristã, para desconsolo dos que os contradizem com suas teses infundadas de "abolição da lei".

SrSr. Oliveira: Bem, creio que foi um estudo de um tema complexo, mas proveitoso. Agora vou terminar de ler o livro do Dr. Bacchiocchi que é, sem dúvida, um grande erudito.

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